quinta-feira, 4 de abril de 2013

Frederik Pohl - A Mensagem (Conto)


A Mensagem

Conto de Frederik Pohl


A mensagem começa:

"NÃO PODEMOS SABER COM CERTEZA SE VOCÊS ESTÃO EVOLUÍDOS O BASTANTE PARA PODEREM ENTENDER ESTA MENSAGEM. INFELIZMENTE, NÃO SOUBEMOS DA SUA EXISTÊNCIA ATÉ O MOMENTO DA EXPLOSÃO".

O general entrou na sala de guerra e deu sua capa ao ordenança. As estrelas nas ombreiras tilintavam umas nas outras. - Que descaramento! - murmurou. - Quem eles acham que são?

O técnico oficial de serviço ergueu os olhos do seu computador. - Com o devido respeito, senhor - disse -, parece evidente que eles são bem mais avançados que nós.

- Mas avançados? Ah, você quer dizer que possuem melhores equipamentos, se refere a isso naturalmente. Bem, está bem, continue decifrando.

- Sim, senhor.

"NÃO É IMPORTANTE QUE ENTENDAM ESTA MENSAGEM. DE QUALQUER FORMA OS SALVAREMOS, COM OS MESMOS MEIOS QUE USAMOS PARA ATRAVESSAR O ESPAÇO E CHEGAR ATÉ AQUI. NÃO TENHAM MEDO".

- Medo! - bufou o general escandalizado.

"O TRANSLADO SERÁ INSTANTÂNEO. NÃO SERÁ NECESSÁRIA NENHUMA AÇÃO DA PARTE DE VOCÊS, E NEM SEQUER SE DARÃO CONTA QUE OCORRE ALGO ATÉ QUE CHEGUEM À NOSSA NAVE".

- Tem certeza que isso não é uma piada? - perguntou o general, sem muita esperança.

- Não creio que seja senhor. "Vigia Espacial" informou a onze horas que havia rastreado um objeto não identificado em órbita cislunar. A mensagem começou a chegar… a mesma mensagem, seguidamente… desde mais ou menos… vejamos - teclou rapidamente na sua calculadora de bolso - desde quinze para uma desta manhã. Em seguida a  enviamos a Washington, senhor.

- Sei perfeitamente o que fizeram - berrou o general -. Os russos também estão recebendo isso?

O oficial técnico se entusiasmou. - Creio que não, senhor - respondeu -. Pusemo-nos em ação imediatamente. Não creio que os russos possam interpretar os verdadeiros sinais sem isso - apalpou o teclado que se conectava com a sala de guerra em Denver e com os gigantescos computadores instalados sob as montanhas Rochosas no Colorado-. E sabemos que ele não tem nada parecido!

- Mmmmm - disse o general, um pouco mais calmo-. Diz algo mais essa mensagem?

- Oh, sim, senhor - o oficial técnico recomeçou a imprimir o texto:

"TENHAM EM CONTA QUE SÓ PODEREMOS SALVAR A VOCÊS DOS EFEITOS DA EXPLOSÃO DA ESTRELA ALFA DE CENTAURO. PODEREMOS CHEGAR A SEU SISTEMA MUITO POUCO ANTES DA ONDA FRONTAL. NÃO PODEREMOS SALVAR A TEMPO NEM SEUS ANIMAIS NEM SEUS OUTROS PERTENCES".

- Se deixarem que os russos se queimem - sorriu o general -, que importa se não salvem os cães? Mas, e Alfa do Centauro? Que acontece se ela explodir?

- Bem, senhor - respondeu o oficial técnico, incerto-, não sou eu quem afirma, mas o pessoal do Conselho Nacional de Ciências diz que, se isso for verdade, será uma explosão tão grande que poderia chegar a queimarmos. Mesmo de tão longe.

- E isso quando ocorrerá? - perguntou o general inquieto.

A mensagem do objeto na órbita cislunar dizia: "QUANDO LHES ALCANCE A ONDA FRONTAL". Nosso pessoal está trabalhando nisso, senhor, mas poderia tentar efetuar o calculo agora…

- Faça-o!

- Sim, senhor - respondeu o oficial técnico, e pôs a mão no bolso, mas não encontrou a calculadora -. Que estranho? - disse, procurando em volta aonde havia posto; não teve êxito-. Bom, general, o farei no computador central…

Porém o teclado de comunicação com o centro de computação também havia desaparecido. Também o modem, o monitor e a impressora. E quando o oficial técnico, com uma repentina sacudida de espanto, conseguiu improvisar uma ligação pelo circuito fechado de TV no centro de computação das Rochosas, encontrou as enormes salas de rocha completamente desertas. Não haviam as fitas magnéticas, nem os processadores. Não havia nada que tivesse relação com computadores, calculadoras, ou qualquer outra forma de inteligência artificial. Tudo isso havia desaparecido. Restavam apenas os animais domésticos, polindo as estrelas dos seus uniformes, com os olhos esbugalhados de espanto e cravados nos aparelhos de comunicação… enquanto isso, lá fora o céu se ascende um pouco mais. E continua iluminando com crescente intensidade.


Tradução: Herman Schmitz