Domingo Santos - Contatos com Alienígenas

O Dia em que a Terra Parou, dir. de Robert Wise, 1951.

Contatos com Alienígenas

No presente estado de nosso conhecimento do cosmos, muito poucas pessoas duvidam da possibilidade de outros mundos habitados. Embora as sondas espaciais lançadas até hoje dentro do nosso sistema solar tenham matado os velhos sonhos utópicos de encontrar criaturas inteligentes em Marte e Vênus, nossos vizinhos mais próximos, o universo é imensurável.

Estima-se que na nossa galáxia existem centenas de bilhões de estrelas, e o número de outras galáxias é incontável, já que novas estão sendo constantemente descobertas, sem ainda ter atingido o fundo, a pele do nosso universo.

Tem sido demonstrado que muitas das estrelas em nossa galáxia têm planetas em órbita em torno delas. Sabendo que a vida se instala mesmo onde se tem a menor possibilidade de se desenvolver, e aplicando a lei das médias, é fácil deduzir que devem ser centenas, milhares, milhões talvez, de planetas com vida no universo, e vida talvez inteligente...

E você se pergunta: como é que se há tanta vida no cosmos, nós ainda não as descobrimos?

Naturalmente distâncias estelares são enormes, o tempo necessário para atravessar estes grandes abismos é incomensurável, principalmente porque não se sabe onde é que há mais possibilidades.

Como nos tempos antigos, os europeus não tinham conhecimento da existência de outro continente habitado chamado América, e de fato muitos homens viveram e morreram sem nunca saber que existia, além das montanhas de seu vale particular, outros seres experimentando os mesmos desejos que eles; igualmente o homem moderno olha para o céu e se pergunta: onde estarão nossos irmãos estrelares? Mas não obtém respostas.

Ainda.

Porque, assim como houve o tempo em que o homem tomou seu cavalo e cruzou as montanhas, e construiu barcos e navegou em direção a outras praias distantes, também haverá um dia em que, sem dúvida, o homem construirá outras naves para cruzar o espaço e chegar a outros sóis, e descobrir outras humanidades com que se relacionar.

Isto, obviamente, ainda pertence hoje ao reino da utopia. Mas o homem sempre gostou de sonhar, e sua imaginação não conhece limites. Embora nós ainda não saibamos onde nossos irmãos estelares estão, mas podemos imaginar...

Esta é, entre outras coisas, o que faz a ficção científica. Desde os autores antigos: Fontenelle, Voltaire, Cyrano, às últimas conquistas da "space opera", seres alienígenas ocuparam a imaginação de muitos escritores. Às vezes somos nós que chegamos aos seus reinos particulares, às vezes são eles que vêm ao nosso mundo para nos cumprimentar... Ou para invadir. Mas quase sempre, quando ocorre o primeiro contato, há conflito.

O conflito pode ser puramente biológico, ou de comunicação, ou política, e até mesmo violenta. Os alienígenas - palavra já adotada mundialmente como o contrário de indígenas - pode vir de forma pacífica e não ser compreendido pela humanidade, como no famoso filme "O Dia em que a Terra Parou", ou mais frequentemente, veem com ânsias de conquistar, como em "A Guerra dos mundos" de Wells.

De fato, durante os anos cinquenta, no momento do grande esplendor da ficção científica americana, proliferaram em grande abundância os contos, as histórias, os romances, com horríveis invasões alienígenas, sem dúvida, devido à proliferação da psicose da Guerra Fria e o temor de uma invasão comunista.

Posteriormente, o abrandamento das tensões fez com que os extraterrestres vindos ao nosso planeta, fossem mais amáveis, mais sociáveis, não vieram apenas invadir o nosso mundo, mas simplesmente para fazer contato, nos conhecer, e inclusive, de fazer comércio conosco. Os problemas dos contatos alienígenas passaram a ser, de militares a sociais.

Mas o homem também vai, na ficção científica, para outros planetas. Curiosamente, a maioria das histórias de contatos com alienígenas que são desenvolvidas nestes mundos são, com bastante precisão, os padrões que marcaram os espanhóis na sua conquista da América.

O desejo de dominação, assimilação, conquista, são claramente refletida em uma série de histórias que abordam a questão. O terrestre, em geral, é bastante superior aos extraterrestres, e quando vai ao seu planeta, vai como um mestre. Embora, por vezes, saia um pouco tosquiado.

A noção clássica de que se os estrangeiros fossem superiores a nós, já os teríamos aqui, (deixemos o assunto dos OVNIs discretamente à parte) parece nortear essas histórias. Nós vamos, nós vemos e nós vencemos (às vezes).

Os alienígenas são índios cósmicos para serem educados de acordo com os nossos costumes e crenças, em troca dos seus tesouros.

Claro, às vezes surgem surpresas...

Este é o elemento mais interessante em muitos contatos com os alienígenas. A mera aventura não é suficiente. Assim, muitas vezes há um fundo de origem social, político, militar, que é a causa do conflito. Muitas vezes, nas diferenças entre humanos e alienígenas, há uma clara alusão, uma crítica, ao nosso próprio egoísmo, ao nosso antropomorfismo. Nós não estamos sozinhos, não somos os primeiros, nós não somos os reis.

Por que, de todas as demais características, as histórias de encontros com alienígenas nos apresentam uma mensagem comum que o homem deverá necessariamente assimilar na sua carreira no espaço: cuidado, alertam-nos, nós não estamos sozinhos no universo, e é bem provável que não sejamos em absoluto os reis da criação, embora o tenhamos, de modo unilateral, como certo.

Vivemos no subúrbio de uma pequena galáxia perdida em um canto entre muitas outras galáxias. O que nos faz pensar que este é precisamente o centro do cosmos?

A ficção científica, nas suas inúmeras histórias de contatos com alienígenas, instala em nós uma ideia mais clara do nosso lugar autêntico.

Ela nos prepara para eventos futuros. Predispõe-nos a aceitar que podemos ser apenas mais uma das infinitas raças que povoam a criação, nem melhor nem pior do que as demais, talvez apenas diferente. E que, nestes nossos futuros contatos, nós nem sempre estaremos em vantagem. Embora, obviamente, isso é o que nós gostaríamos...


Domingo Santos, na introdução à antologia CONTACTOS CON ALIENÍGENAS, tradução de H. Schmitz, Ediciones Dronte, 1982.

Robert Silverberg - A Ficção Científica e as Previsões do Futuro



PRÓLOGO de Robert Silverberg para a antologia de contos de Brian W. Aldiss: GALAXIAS COMO GRANOS DE ARENA.

He aquí un libro ingenioso de brillantes relatos que narran acontecimientos que suceden dentro de miles o millones de años. Pero no encontraremos en estas páginas una guía literal del futuro de la humanidad. Lo que se ofrece aquí es un refinado entretenimiento, una suerte de poesía visionaria, sueños sorprendentes que adquieren sustancia por medio del arte. ¿Es un mapa fiable de los mundos del mañana? No, en absoluto, nada de eso. Es imposible crear esos mapas.

"El Tiempo -como un elemento que puede ser sólido, líquido o gaseoso- tiene tres estados", escribe Brian Aldiss en la presentación de este libro. "En el presente es un flujo inasible. En el futuro es una bruma turbia. En el pasado es una sustancia sólida y vidriosa; entonces lo llamamos historia. Entonces no puede mostrarnos nada salvo nuestro rostro solemne"

Exactamente. El presente es un misterio continuo; el pasado es un libro accesible a nuestra lectura, aunque no necesariamente lo sepamos leer; el futuro escapa a nuestra percepción y todo intento de hacer predicciones de largo alcance está condenado de antemano.

¿Qué queda entonces de la popular idea de que esa rama de la literatura imaginativa que llamamos "ciencia ficción" puede brindarnos un atisbo de lo que vendrá? Es una idea falsa. La ciencia ficción tiene muy poco valor predictivo, salvo cuando predice lo obvio. Como dice Brian Aldiss, una "bruma turbia" nos oculta el futuro. Cuando miramos hacia adelante, a lo sumo vemos trazos amplios y generales, y cuanto más nos alejamos del presente, mayor es la divergencia entre nuestras profecías y lo que realmente sucederá. Es una locura creer que alguien pueda ofrecer una anticipación precisa, trátese de un escritor de ciencia ficción, de un dirigente político o de los expertos que comentan los asuntos internacionales en los periódicos. Ya es bastante engorroso hacer una predicción meteorológica para dentro de tres días.

Un claro ejemplo de las limitaciones predictivas de la ciencia ficción: los primeros viajes a la luna. Por lo menos desde el siglo dos de nuestra era, cuando Luciano de Samosata escribió el Icaromenippus, escritores visionarios han narrado historias de viajes lunares. Pero no se requería un gran poder profético para imaginar esos viajes; el intento de abarcar un campo cada vez más amplio es propio de la naturaleza humana, y aun en la época clásica era fácil entender que en determinado momento se llegaría a los confines del mundo y la luna sería el próximo objetivo lógico. Luciano y sus muchos sucesores no se proponían predecir lo predecible. Luciano envió a Manipo a la luna para darle una perspectiva, en el sentido más básico, de las locuras que la humanidad cometía en la tierra: su libro era una obra de intención satírica. Jules Verne, en De la Tierra a la Luna (1869), intentó ofrecer un relato realista de una visita a la Luna, una guía turística potencial, a partir de los conocimientos tecnológicos aceptados en su época; pero sabía que estaba creando una obra de la imaginación, no un croquis para ingenieros futuros. Los primeros hombres en la Luna (1901) de H. G. Wells se presentaba como una encantadora fantasía romántica que, al igual que el Icaromenippus, examinaba irónicamente los absurdos de la humanidad desde una distancia de 383.024 kilómetros. Wells no esperaba que los futuros viajeros del espacio llegaran flotando a la Luna por medio de la antigravedad, ni que descubrieran una sociedad de seres humanoides inteligentes en las cavernas selenitas.

Aunque las narraciones de viajes lunares constituyeron un tópico de la literatura imaginativa durante siglos, ninguna obra de lo que se llama "ciencia ficción" se aproximó siquiera a una descripción atinada de lo que sucedió en 1969. Los viajes siempre se realizaban bajo auspicios privados. ¿Dónde está el relato que hable de un vasto proyecto dirigido por el gobierno, con un coste de miles de millones de dólares y con la participación de cientos de grandes empresas trabajando en colaboración? ¿Quién anticipó los gigantescos centros de control de la Tierra? ¿Quién previó transmisiones en vivo desde la Luna por parte de los primeros exploradores? Y -lo más asombroso- ¿qué relato de ciencia ficción nos cuenta que realizaríamos tres o cuatro alunizajes tripulados y luego abandonaríamos la empresa? (A decir verdad, existe uno: Tendencias de Isaac Asimov, publicado en 1939, ridículamente equivocado en los detalles pero profunda y espléndidamente acertado en la tesis de que el primer vuelo a la Luna sería seguido por una creciente hostilidad popular hacia el concepto de la exploración espacial. El cuento de Asimov es un vívido ejemplo de la notable capacidad de la ciencia ficción para llegar a las verdades futurológicas metafóricas más amplias mientras fracasa rotundamente en la predicción de los detalles específicos.)

Cuando abordamos aquellos libros que están ambientados en un futuro realmente lejano -Primeros y últimos hombres de Olaf Stapledon, La Tierra moribunda de Jack Vance, Invernáculo de Brian Aldiss-, abandonamos totalmente el ámbito de la predicción para entrar en el de la poesía y la metáfora. Esos libros no tienen la menor intención de ser hipótesis especulativas serias, visiones que debamos tomar literalmente; son raudas obras de la imaginación, auténticos vuelos de la fantasía.

Así son los nueve relatos que constituyen Galaxias como granos de arena de Aldiss. Datan del período inicial de la fecunda carrera de este gran escritor. Toda su obra, desde su primera novela, La nave estelar (1958), hasta libros como Invernáculo (196z) y Barbagrís (1964), y la monumental y magistral trilogía de Helliconia de los años 8o, está signada por la imaginación exuberante, el vigor estilístico y una maravillosa y traviesa inventiva en la elaboración conceptual. Hallamos todas esas características en los relatos con los que Aldiss ha urdido sus Galaxias como granos de arena.

El libro se presenta como una crónica de los milenios venideros, y eso es. Pero quienes lo lean como una guía Baedeker del futuro se sentirán defraudados. La deslumbrante colmena de genes, la vasta megalópolis de Nunion, los misterios de la enigmática Yinnisfar, todo ello se debe tomar por lo que es: bellos sueños, elegantes fantasmagorías.

Existe una tribu indígena de los Andes en cuya lengua uno habla del pasado como si lo tuviera "enfrente". Para nosotros resulta un modo extraño de expresar las cosas, hasta que nos detenemos a pensar que, aunque el pasado es accesible hasta cierto punto para nuestra memoria, la totalidad del futuro siempre será un misterio. Y así, aunque podamos recorrer los hechos del pasado como si estuvieran frente a nosotros en una planicie, debemos retroceder a ciegas para internarnos en el ignoto futuro, sin ver claramente todos sus aspectos hasta que estemos en su centro.

Quizá estos indígenas andinos, que miran el pasado mientras retroceden hacia el futuro, hayan dado con la metáfora justa. Ver lo que nos espera dentro de poco es difícil, cuando no imposible; las eras distantes, veladas por una gigantesca montaña de variables incalculables, escapan totalmente a nuestra percepción. Los escritores como Brian Aldiss están obligados a retroceder hacia el futuro como el resto de nosotros. Pero mientras escrutan lúcidamente el pasado obtienen, por medio de la visión periférica o la intuición artística, atisbos de cosas venideras que los demás no podemos ver. Lo que tenemos aquí, pues, es un viaje de la imaginación, una incursión en lo que es inherentemente recóndito, un libro de fábulas desbordantes, bellas, poéticas, visionarias. No es un mapa utilitario de la carretera que se extiende ante nosotros. Apreciémoslo como aquello que el autor quiso que fuera, y que logró tan estupendamente.

ROBERT SILVERBERG
Oakland, California, julio de 1999

Brian W. Aldiss - Sobre a Ficção Científica

Introdução de Brian W. Aldiss para a sua coletânea de contos: Space, Time and Nathaniel.


Con frecuencia la introducción es la mejor parte de un libro, aunque no quiero garantizar que tal suceda en el presente caso. La lectura de introducciones constituye una ocupación por derecho propio; es extraño que nadie haya escrito sobre ella, analizándola e interpretándola «a la luz de los conocimientos actuales». Las introducciones sirven a muchos fines; pueden ser casi tan íntimas como un cenador en un jardín campestre, extenderse en alabanzas de la habilidad mecanográfica femenina, volcarse en agradecimiento a serviciales bibliotecarios, o por el alquiler de sillas de cubierta. O pueden ser también un atisbo más serio entre bastidores, una discusión de fuentes documentales, o un monólogo sobre los métodos empleados. Y, teniendo en cuenta que existen tantas variedades de introducciones como de libros, pueden ser cualquier otra cosa. Esta, por ejemplo, es cualquier otra cosa.

Algunos de los que ya hemos rebasado la treintena recordamos aquellos días en que en las reuniones respetables no se podía mencionar la Fantasía Científica. Ahora se la menciona. A pesar de que seguimos deplorando la existencia de reuniones cuya única recomendación consista en su respetabilidad, justo es reconocer que este cambio resulta agradable, pues nos da la sensación de que teníamos razón desde el principio. O, si no teníamos esa sensación, la menos jubilosa que se experimentaba cuando el fétido intruso que defendíamos conseguía convertirse en alguien y llegar a ser algo.

Este cambio sobrevenido en la consideración que merece la Fantasía Científica, ha provocado acaloradas e interesantes controversias. Han surgido dos corrientes de pensamiento opuesto, cuyos miembros se tiran pros y contras a la cabeza. De entre los rangos de los beligerantes han salido inquietos detractores, como J. B. Priestley, y espléndidos campeones como Edmund Crispin. Entre tanto, semejantes camilleros que corren entre ambos ejércitos, los escritores de Fantasía Científica continúan escribiendo tan debatido género. Y cuando aparecen a la luz publican sus colecciones de cuentos y novelas, lo hacen, muy adecuadamente, sin ir precedidas por algo tan provocador como es una introducción. Pero ahora yo, tirando a un lado mi camilla, me atrevo a embarcarme en una introducción.

«Audaces fortuna jubat» decían los romanos. (A sorte favorece os bravos. Frase de Virgílio, Eneida 10,284)

Después de haberse dicho cosas tan sutiles sobre la cuestión, sólo nos quedan los hechos evidentes, que muy posiblemente han sido pasados por alto. La Fantasía Científica es un campo abonado para la polémica. Vale la pena seguir este atisbo de algo innegable, pues la polémica no sólo prospera debido a la novedad de la Fantasía Científica..., es decir, en tanto cuanto puede hablarse de novedad; sino que continúa prosperando porque si bien la Fantasía Científica constituye al parecer un género, lo cual implica una conformidad a un modelo o tipo establecido, en realidad es un campo demasiado amplio para que pueda acogerse a una u otra categoría. ¡Los corsés del conformismo oprimen por todos lados! Aunque todavía joven y atractiva, la Fantasía Científica se convierte a pasos agigantados en algo capaz de abarcar todos los matices que resume aquello que a veces, con una expresión harto repelente, se denomina literatura «seria» o «gran literatura». Si el terreno es arable y fértil: con buen tiempo, puede plantarse en él lo que sea.

Por esta razón, a pesar de los ataques de los que es objeto, la Fantasía Científica continúa floreciendo. Todos cuantos conocen la Fantasía Científica saben que los ataques que ésta sufre sólo alcanzan un pequeño sector de la misma. Se ha acusado sucesivamente a la Fantasía Científica de ser un ocioso fantasear, simples relatos de máquinas, fundamentalmente anticientíficos, demasiado científico, una imagen demasiado sombría del mundo, una imagen demasiado abigarrada del mundo, una literatura no lo bastante escapista, o un cuento de hadas modernos. ¿Dónde está la verdad? A veces en ninguna de estas cosas; con frecuencia, en todas ellas. En cuanto a la observación de que gran parte del contenido de la Fantasía Científica es «inverosímil», huelga comentario para semejante realismo. Todo, considerándolo fríamente, es inverosímil, de la estrella a la uña. Verosímil e inverosímil son la misma palabra.

Hará cosa de cuatro años, todo parecía indicar que la Fantasía Científica se iba a convertir en el reino de los bestsellers. Por primera vez en la Historia, aparecieron en Inglaterra libros encuadernados en tela que ostentaban simultáneamente los nombres de autores de Fantasía Científica y de editores hasta entonces tenidos por serios. Se inauguró una época de vacas gordas y a todos se nos subió el éxito a la cabeza. Como el número relativamente reducido de autores del género no podía atender todas las demandas, surgieron novelas que ostentaban la etiqueta de «Fantasía Científica» y que habían sido escritas por autores completamente indocumentados en el género. ¡A cuatro centavos por palabra y no hacemos preguntas fue la consigna del día! Mas por desgracia, estas nuevas novelas no cumplían ninguna de las rigurosas leyes del género. Por consiguiente, el público sacó una idea errónea - o, tal vez, peor, nebulosa - de lo que pretendía ofrecerle la escuela auténtica de escritores de Fantasía Científica. Actualmente ha terminado ya la etapa del «todo sirve». Murió por consunción propia. Aquel auge repentino era un arma de doble filo. En muchos aspectos, el período actual es más interesante. (Por ejemplo, vuelve a ser posible leer toda la Fantasía Científica que se publica; si esto es deseable, es algo que depende del gusto de cada uno.) Parece como si este género literario, con alguna que otra excepción, entre las que se cuenta John Wyndham, se dirigiese sólo a satisfacer los gustos de una minoría, como la poesía, el caviar y la travesía navideña del puerto. Como la poesía: tal vez sea éste el mejor símbolo, pues la Fantasía Científica y la poesía tienen mucho de común. Ambas poseen una música insidiosa y sorprendente; ninguna de ellas resulta demasiado fácil de cultivar y de aprehender.

El hecho de que la poesía cuente con tan pocos lectores es materia para las tristes cavilaciones de los poetas; como dice el refrán, «los poetas nacen, no se pagan». En lo que se refiere a la Fantasía Científica, la respuesta es más evidente, aunque también sea aplicable a la poesía. Cada relato de Fantasía Científica exige algo de parte del lector, incluso las tramas baladíes que contiene este libro: una reorientación, un deseo, una aquiescencia a examinar el fragmento de un Xanadu ajeno. Esto no resulta cómodo para todos. Como es natural, las bibliotecas circulantes no se avienen a la idea.

Mi concepto de la Fantasía Científica como una especie de poesía no goza de mucha popularidad, lo reconozco, en algunos círculos de aficionados al género. Pero hasta el momento presente, la navegación interplanetaria, la telepatía y el resto del instrumental que empleamos no pasa de ser un sueño, pero... ¿ha existido jamás un sueño más tentador que el de la astronavegación? Estas cosas ganan más tratadas como símbolos que como hechos reales. Sólo algunos genios como James Blish y Hal Clement tienen suficiente maestría para utilizar la jerga científica de una manera convincente.

Vivimos en una época consciente de sí misma. La Ciencia, que es la investigación del hombre en su medio ambiente y en sí mismo, nos revela de continuo a nosotros mismos, y cuanto más claramente vemos la imagen, más misteriosa nos parece. Existe un algo que llamamos «vida», una llama que, como el fuego olímpico, pasa de antorcha en antorcha y mientras la sostenemos nos permite examinarnos a su luz. Lo menos que podemos decir es que somos fantásticos. Conducimos automóviles, bebemos Horlicks, miramos por el microscopio. ¿Qué haremos mañana? Esta es la pregunta que se hace perpetuamente el escritor de Fantasía Científica; con su súper conciencia de sí mismo, ve cómo el futuro le hace burlonas muecas desde las encrucijadas del tiempo... y él intenta vengarse mirándole a su vez.

Una crítica que suele hacerse a la Fantasía Científica es la de que sus personajes no son reales. Esto es tan cierto y tan imposible de responder como aquellas quejas de que determinada pieza musical no contiene melodías reales. Se trata de un comentario bastante ingenuo, que elude el nudo de la cuestión, pues el verdadero propósito de la Fantasía Científica es otro. Su virtud consiste en presentar al hombre en relación con lo que le rodea: el hombre en otro planeta, el hombre en una época diferente, el hombre frente a la vida extraterrestre, el hombre ante uno de sus propios inventos. Aunque no de una manera absoluta, podemos afirmar que la Fantasía Científica es el único medio de que disponemos para ocuparnos del hombre como parte integrante del universo; en cambio, la novela ordinaria sólo puede representarnos como parte integrante de la sociedad humana. Esta es la justificación del término «Fantasía Científica»... que no es, tal vez, un término tan aborrecido como se ha pretendido que era.

Me doy cuenta de que esto suena de un modo desagradable. Acabo de exponer, desnudos, los esqueletos que todos llevamos con nosotros; de todos modos, la carne que los recubre puede ser muy tentadora. Y la Fantasía Científica, como cualquier adolescente, empieza a poseer un sentido del humor, lo cual es una señal muy saludable. Frederic Brown, William Tenn y John Wyndham (para no alargar la lista) pueden ser considerados como humoristas de primer orden, «Prott», de Margaret St. Clair, es una joya de la tragicomedia; y algunos de los relatos que se incluyen en este volumen pueden considerarse humorísticos. Esto quiere decir que la Fantasía Científica no sólo trata de la dignidad del hombre, sino también de sus indignidades.

Pero los dos ejércitos que antes he citado siguen en pie de guerra: he de correr en busca de mi camilla.

Brian W. Aldiss
Abril de 1956


Titulo original: Space, Time and Nathaniel
Traducción: Antonio Ribera
© 1957 by Brian W. Aldiss
© 1962 E.D.H.A.S.A.
Avenida Infanta Carlota, 129 - Barcelona
Depósito Legal B. 10480-62
Edición digital: Umbriel CD

George Orwell - 1984 (Capas)



Nineteen Eighty-Four (em português: Mil Novecentos e Oitenta e Quatro ou 1984) é um romance distópico clássico do autor inglês Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo de George Orwell. Terminado de escrever no ano de 1948 e publicado em 8 de junho de 1949, retrata o cotidiano de um regime político totalitário e repressivo no ano homônimo. No livro, Orwell mostra como uma sociedade oligárquica coletivista é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela.

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Brian W. Aldiss - Galeria de Capas


Brian Wilson Aldiss (Norfolk, 18 de agosto de 1925) é um escritor inglês de ficção científica. Grandemente influenciado pelo pioneiro de ficção científica H. G. Wells, Aldiss é o vice-presidente da H. G. Wells Society.

Seu conto Super-Toys Last All Summer Long serviu de base a Stanley Kubrick e Steven Spielberg para o roteiro do filme A.I. - Inteligência Artificial.


Confira aqui algumas capas dos seus livros: https://plus.google.com/photos/103998711237758699926/albums/5944997591321098065?banner=pwa

E no Pinterest: http://www.pinterest.com/hermanschmitz/brian-aldiss-gallery/

C.M. Kornbluth - Dominós (Conto)

DOMINÓS

C. M. Kornbluth

Dinheiro! - gritou-lhe sua mulher. - Você está se matando, Will. Arranque-se a esse mercado e vamos para algum lugar onde possamos viver como seres humanos. . .

Ele bateu a porta do apartamento sobre as censuras dela e fez um esgar, de pé, sobre o corredor atapetado, sentindo a pungência de uma úlcera atravessar-lhe o corpo. A porta do elevador abriu-se, e o ascensorista disse, sorridente:

- Bom dia, Sr. Born. O dia está lindo, hoje.

- Muito me alegro, Sam - falou W. J. Born, azedamente. - Acabo de ter um lindo, um muito lindo pequeno almoço.

Sam não soube como deveria receber aquilo, e resolveu a questão com um sorriso amarelo.

- Que tal está o mercado Sr. Born? - sugeriu ele, quando o elevador parou no primeiro andar. - Meu primo disse-me que eu deixasse a Divertimento Lunar, ele está estudando para piloto, mas o Jornal diz que as ações dela vão subir.

W. J. Born rosnou:

- Se eu soubesse, não lhe diria. Você não tem nada a fazer no mercado. Nada, se pensa que pode jogar ali como joga dados.

Durante todo o tempo que o táxi levou para alcançar seu escritório, ele bufou de cólera. Sam, um milhão de Sams, nada tinham a fazer no mercado. Mas estavam metidos nele, e tinham levado a cabo a Grande Baixa de 1975 em cujas águas as Associadas W. J. Born iam navegando alegremente. Por quanto tempo? Nova pungência da úlcera seguiu-se àquele pensamento.

Chegou às 9,15. O escritório já era um sorvedouro. Os estrepitosos receptores elétricos de cotações e notícias, os quadros indicativos pestanejantes e os mensageiros a correr, transmitiam as últimas e mais quentes palavras dos mercados de Londres, Paris, Milão, Viena. Breve seria Nova York a chamar, depois Chicago, e então São Francisco.

Talvez aquele fosse o dia. Talvez Nova York abrisse com um declínio significativo na mineração e Fundição da Lua. Talvez Chicago respondesse nervosamente com uma baixa repentina das mercadorias, e a Utah Urânio de São Francisco fizesse nível com ele, como solidariedade. Talvez pânico na Bolsa de Tóquio, seguindo de perto as notícias alarmantes dos Estados Unidos - e o pânico, expedido através da Ásia com o nascer do sol em Viena, Milão, Paris, Londres, viesse rebentar novamente, como o impacto de um vagalhão, sobre o mercado de Nova York, em sua abertura.

"Dominós" - pensava W. J. Born. - "Uma fileira de dominós. Derrube um, e todos tombarão, amontoados." Talvez que aquele fosse o dia.

A Senhorita Illig tinha uma dúzia de chamados de seus clientes pessoais, que tinham a prioridade nas baixas, já anotados no bloco de sua secretária. Ele ignorou-os e disse, ao mesmo tempo que ela lhe dava um sorridente "bom dia":

- Chame o Sr. Loring ao telefone.

O telefone de Loring tocou e tocou enquanto W. J. Born fervia por dentro. Mas o laboratório era um lugar impossível, e quando aquele homem mergulhava em trabalho duro, ficava surdo e cego para qualquer distração. Era preciso fazer-lhe essa justiça. Sujeito misterioso, insolente, com um complexo de inferioridade que se via de longe, mas um trabalhador.

A voz insolente de Loring disse-lhe ao ouvido:

- Quem é?

- Born - estalou ele. - Como vai isso?

Houve uma longa pausa, e Loring disse, desinteressadamente:

- Trabalhei a noite inteira. Penso que dei no couro.

- Que é que você quer dizer com isso?

O outro, muito irritado:

- Eu disse que penso que dei no couro. Mandei um relógio, um gato e uma gaiola de ratos brancos para fora, durante duas horas. Voltaram todos muito bem.

- Você quer dizer... - começou W. J. Born, rouco, e umedecendo os lábios. - Quantos anos? - perguntou, em tom neutro.

Os ratos não o disseram, mas acho que passaram duas horas em 1977.

- Vou já para aí - disse rapidamente W. J. Born, desligando. O pessoal do escritório ficou a olhar para ele, vendo-o sair a passos largos.

Se o homem estivesse mentindo!... Não, ele não mentia. Tinha estado absorvendo dinheiro havia seis meses, desde que forçara sua entrada no escritório de Born, com seu projeto da máquina do tempo, mas não mentira uma só vez. Admira com franqueza brutal seus próprios malogros e suas dúvidas sobre se a coisa viria a funcionar algum dia. Mas agora, e W. J. Born regozijava-se, aquilo se tornara o jogo mais inteligente de sua carreira. Seis meses e um quarto de milhão de dólares - e uma previsão com dois anos de antecedência sobre o mercado, o que valia um bilhão! Quatro mil por um, rejubilava-se ele, quatro mil por um! Duas horas para saber quando a Grande Alta da Bolsa de 1975 estouraria, e depois voltar para seu escritório, armado com aquela informação, pronto para comprar até a própria crista do estouro, retirar-se, então, no auge, rico para sempre, para sempre fora do alcance da sorte, boa ou má!

Subiu com dificuldade para o sótão de Loring, na Rua 70, Oeste.

Loring estava se excedendo na representação do papel do fanfarrão displicente. Esguio e desajeitado, cabelos vermelhos e barba por fazer, careteou um sorriso para Born e disse:

- Que acha do futuro da soja, W. J? Mantém-se ou muda?

W. J. Born começou, automaticamente:

- Se eu soubesse, não... oh! não seja tolo. Mostre-me essa desgraçada coisa.

Loring mostrou-lha. Os geradores cheios de guinchos não tinham sido mudados. O alto acumulador Van de Graaf ainda parecia algo saído de um filme de terror de terceira classe. Os trinta pés quadrados de válvulas a vácuo, resistências e arames de embalagem, ainda eram a mesma incompreensível barafunda. Mas, coisa que ali não havia quando de sua última visita, uma cabina telefônica, sem telefone, fora acrescentada. Um disco feito de uma lâmina de cobre, colocado no forro dela, ficava ligado à máquina por um cabo resistente. O piso era uma placa de vidro polido.

- Aí está - disse Loring. - Arranjei isto num ferro-velho e adaptei-o lindamente. Quer ver uma experiência com os ratos?

- Não - disse W. J. Born. - Quero experimentar pessoalmente. Para que é que você pensa que eu o estou pagando?

Fez uma pausa e perguntou:

- Garante que não há perigo?

- Ouça, W. J. - disse Loring - eu não garanto coisa alguma. Penso que isto o mandará para dois anos além, no futuro. Penso que se estiver de volta, aqui, dentro dessas duas horas tornará a sentir-se de volta, ao presente. Uma coisa eu lhe direi: se isto chegar a mandá-lo, realmente, para o futuro, o melhor é que retorne à máquina, dentro de duas horas. De outra forma você pode recuar para o mesmo espaço, como um pedestre que passeia ou um carro que se move - e uma bomba H estará em seu caminho.

A úlcera de W. J. Born doeu. Com dificuldade, êle perguntou: - Há alguma outra coisa que eu não deva saber?

- Nenhuma - disse Loring, depois de pensar um momento.

- Você é apenas um passageiro que paga.

- Então, vamos.

W. J. Born verificou se trazia consigo seu caderno de apontamentos e se levava uma caneta de pena macia no bolso, metendo-se, depois, na cabina telefônica.

Loring fechou a porta, careteou um sorriso, fez um gesto de adeus e desapareceu, literalmente desapareceu, enquanto Born olhava para ele.

Born escancarou a porta da cabina e disse:

- Loring, mas que diabo...

E então viu que já ia avançada a tarde, não mais era manhã. E que Loring não se encontrava em lugar algum do celeiro. Que os geradores estavam silenciosos e as válvulas escuras e frias. Que havia ali uma capa de poeira e um leve cheiro de mofo.

Saiu correndo do grande aposento e desceu as escadas. Era a mesma rua 70, Oeste. "Duas horas", pensou ele, e olhou para seu relógio. Marcava 9,55, mas o sol, indubitavelmente, dizia que a tarde se adiantava. Algo acontecera. Resistiu ao impulso de agarrar um menino de ginásio que passava e perguntar em que ano estavam. Havia um ponto de venda de jornais, ao fim da rua, e Born caminhou para ali mais depressa do que tinha andado nos últimos anos. Atirou uma moeda de dez centavos e apanhou um Post, datado de 11 de setembro de 1977. Tinha chegado.

Ansiosamente, correu para a mesquinha página financeira do Post. A Mineração e Fundição da Lua abrira a 27. À Urânio a 19. A United Comp a 24. Baixas catastróficas! O estouro viera!

Olhou novamente para seu relógio, em pânico. Nove e cinquenta e nove. Marcava 9,55, antes. Precisava voltar à cabina telefônica às 11,55, ou... Ele teve um frêmito. Uma bomba H estaria em seu caminho.

Agora, devia tratar de saber justamente como fora o estouro.

- Táxi! - gritou ele, sacudindo seu jornal. O carro parou na sarjeta.

- Biblioteca pública - rosnou W. J. Born, recostando-se para ler o Post com júbilo.

A manchete dizia: 25.000 PESSOAS LUTAM AQUI A FIM DE CONSEGUIR O AUMENTO DAS VERBAS OFICIAIS PARA AUXÍLIO AOS DESEMPREGADOS. Naturalmente, naturalmente. Suspirou, ao ver quem tinha vencido as eleições presidenciais de 1976. Deus, quanto poderia ganhar, de volta a 1975, se quisesse fazer apostas sobre a eleição! NÃO HA ONDA DE CRIMES, DIZ O COMISSÁRIO. As coisas não tinham mudado muito, afinal. LOURA MODELO RETALHADA NO BANHEIRO. PROCURA-SE O MISTERIOSO NAMORADO. Aquela notícia ele leu toda, interessado pela fotografia em duas colunas da loura modelo que trabalhava para uma casa de meias. E percebem, então, que o táxi não se estava movendo. Fora apanhado por um congestionamento de trânsito, duro como pedra. Eram 10 horas e cinco minutos.

- Chofer! - chamou ele.

O homem voltou-se, apaziguador e assustado. Uma corrida era uma corrida e o tempo de depressão.

- Não se preocupe, senhor. Vamos sair daqui num minuto. Eles fazem a volta em Drive, e isso congestiona a avenida por alguns minutos. É só isso. Logo estaremos correndo.

Correram logo, realmente, mas apenas por alguns segundos. O táxi andou polegada por polegada, agonizando pelo caminho, enquanto W. J. torcia o jornal entre as mãos. As 10,30 atirava uma nota ao chofer e saltava para fora do táxi.

Arquejando, alcançou a biblioteca as 10,46 pelo seu relógio. Pelas horas que o resto do mundo seguia naquele dia, era o momento em que se fechavam os escritórios no centro da cidade. Ele esbarrara num bando de moças que usavam vestidos surpreendentemente curtos e chapéus surpreendentemente grandes.

Perdeu-se na marmórea imensidão da biblioteca e de seu próprio pânico. Quando encontrou a secção de jornais, seu relógio marcava 11,03. W. J. Born arquejou, para a moça da recepção:

- Fichário do Jornal da Bolsa, em 1975, 1976 e 1977.

- Temos os microfilmes de 1975 e 1976, senhor, e cópias soltas deste ano.

- Diga-me - falou ele - qual foi o ano do grande estouro do mercado? É isso que eu quero saber.

- Foi 1975, senhor. Quer ver esses?

- Espere - disse ele. - Por acaso recorda-se em que mês foi? - Penso que foi em março ou agosto, ou alguma coisa assim, senhor.

- Dê-me todo o fichário, por favor - disse ele. Mil novecentos e setenta e cinco. Seu ano, seu próprio ano. Teria ele um mês? Uma semana? Ou...?

- Assine este cartão, senhor - disse a moça, pacientemente. - Há uma máquina de leitura, o senhor apenas precisa sentar-se ali e eu lhe trarei o carretel.

Ele rabiscou seu nome e foi ter à máquina, única disponível numa fila onde havia doze. Seu relógio marcava 11,05. Tinha cinquenta minutos.

A moça mexeu em cartões que estavam sobre sua secretária, conversou com um jovem e simpático assistente, que trazia uma pilha de livros, enquanto o suor porejava na testa de Born. Por fim, desapareceu atrás das pilhas, em sua secretária.

Born esperou. E esperou. E esperou. Onze e dez. Onze e quinze. Onze e vinte.

Uma bomba H estaria em seu caminho.

Sua úlcera pungia quando a moça tornou a aparecer, trazendo delicadamente um carretel de filme de 35 milímetros, entre o polegar e o indicador, e sorrindo alegremente para Born.

- Aqui estamos - disse ela, colocando o carretel na máquina e apertando um botão. Nada aconteceu.

- Oh! Que coisa! - disse ela. - A luz não funciona. Eu falei com o eletricista.

Born teve vontade de gritar, e depois de explicar, o que teria sido da mesma maneira uma coisa tola.

- Ali está um leitor livre - e ela apontou a fila. Os joelhos de W. J. Born fraquejavam, quando ele se dirigia para lá. Olhou para seu relógio: 11,27. Vinte e oito minutos para voltar. A tela de vidro iluminou-se com a sombra de um formato de jornal familiar. 1° de janeiro de 1975.

- Basta o senhor virar a manivela - disse ela, mostrando-lhe como se fazia. As sombras passaram na tela com velocidade estonteante, e a moça voltou depois para a sua secretária.

Born fez girar o filme até abril de 1975, o mês que deixara havia 91 minutos, e até o décimo-sexto dia, que era aquele próprio em que partira. A sombra no vidro era do mesmo jornal que ele vira naquela manhã: ALTA DAS SINTÉTICAS E BAIXA DA NOVA VIENA.

Tremendo, ele moveu a manivela para uma visão do futuro: o Jornal da Bolsa de Valores para o dia 17 de abril de 1975.

Em tipos de três polegadas as letras gritavam: ESTOURO DE TÍTULOS EM CRISE MUNDIAL - BANCOS SE FECHAM - CLIENTES ARMAM TUMULTO ENTRE FIRMAS CORRETORAS!

Subitamente, ele sentiu-se calmo, sabendo o futuro e livre de seus golpes. Levantou-se do leitor e caminhou com firmeza para o vestíbulo de mármore. Tudo estava em ordem, agora. Vinte e seis minutos era tempo bastante para voltar à máquina. Teria um intervalo de várias horas no mercado e seu dinheiro estaria seguro e ele poderia tirar seus clientes pessoais daquele gancho.

Tomou um táxi com milagrosa facilidade e mandou tocar diretamente para o edifício da Rua 70, Oeste, sem estorvo. Às 11,50, pelo seu relógio, estava fechando a porta da cabina de telefone no laboratório empoeirado e cheirando a mofo.

As 11,55 notou súbita mudança na luz do sol que filtrava através das janelas sujas, e calmamente saiu da cabina. Era, de novo, o dia 17 de abril de 1975. Loring estava profundamente adormecido junto de um aquecedor de gás onde o café se aquecia. W. J. Born apagou o gás e desceu as escadas, sem fazer ruído. Loring era um jovem misterioso, insolente e inseguro, mas seu gênio tinha habilitado W. J. Born a colher uma fortuna, em áureo momento de perfeição.

De volta a seu escritório chamou seu corretor e disse, com firmeza:

- Cronin, preste bastante atenção. Quero que você venda todas as ações e todos os bônus de minha conta pessoal, imediatamente, no mercado, e que peça cheques certificados em pagamento.
Cronin perguntou, de chôfre:

- Chefe, o senhor enlouqueceu?

- Não. Vá me transmitindo o movimento de vez em quando e não perca tempo. Faça seus rapazes trabalharem. Largue tudo o mais. Born almoçou alimentos leves que mandou buscar, e recusou-se a ver fosse quem fosse e a atender telefonemas, a não ser de seu corretor. Cronin ia transmitindo que a venda prosseguia, que o Sr. Born devia estar louco, que aquela nunca ouvida exigência de cheques certificados estava causando alarma, e, finalmente, por ocasião do fechamento, que os desejos do Sr. Born iam sendo realizados. Born disse-lhe que lhe trouxesse os cheques imediatamente.

Dentro de uma hora eles chegavam, contra uma dúzia de Bancos de Nova York. W. J. Born chamou uma dúzia de primeiros mensageiros, e entregou os cheques para cobrança, um a cada mensageiro. Disse-lhes que retirassem o dinheiro, alugassem depósitos de segurança do tamanho necessário nos bancos onde ele já não os tivesse, e ali guardassem o dinheiro.

Telefonou então aos Bancos para confirmar o extravagante arranjo. Ele tinha relações pessoais com pelo menos um vice-presidente de cada Banco, e aquilo ajudou-o muitíssimo.

W. J. Born recostou-se em sua cadeira, um homem feliz. Que viesse o estouro. Voltou-se para seu indicador luminoso pela primeira vez naquela manhã. O fechamento de Nova York estava descendo bruscamente. O de Chicago mostrava-se pior. São Francisco estava abalado - e enquanto ele olhava as cifras luminosas que representavam os preços em São Francisco, elas começaram a cair. Cinco minutos depois era um escandaloso pique para o abismo. A campainha de fechamento deteve aquele mercado à beira da catástrofe.

W. J. Born saiu para jantar, depois de ter telefonado à sua mulher, avisando que não iria para casa. Voltou para o escritório e observou um indicador num dos aposentos externos, e que dava as cifras da Bolsa de Tóquio através das horas da noite, congratulando-se consigo mesmo quando aquelas cifras revelaram pânico e ruína. Os dominós estavam tombando, tombando, tombando.

Passou a noite no seu clube e levantou-se cedo, comendo sozinho na sala de refeições quase deserta. O transmissor de notícias, no vestíbulo, soltou um bom-dia, enquanto ele calçava as luvas para proteger-se do ar gelado, naquela manhã de abril. Born parou para ouvir. O transmissor começou a contar uma história de desastre nas grandes bolsas da Europa, e W. J. Born saiu para seu escritório. Uma porção de corretores estava chegando cedo, murmurando entre si em pequenos aglomerados, no vestíbulo e nos elevadores.

- Que acha disso, Born? - perguntou um deles.

- O que sobe deve descer - disse ele. - Eu estou seguro, estou de fora.

- Ouvi, mesmo, dizerem isso - falou o homem, com um olhar que Born considerou de inveja.

Viena, Paris, Milão e Londres estavam contando sua triste história nos indicadores, pelos escritórios dos clientes. Havia alguns deles acumulados já por ali, e o pessoal do serviço noturno estivera ocupado, recebendo ordens para a abertura. Todos deviam vender.

W. J. Born fez um sorriso para um dos funcionários da noite e disse uma piada, coisa rara nele:

- Quer comprar uma casa de corretagem, Willard?

Willard relanceou o olhar para o indicador e respondeu:

- Não, muito obrigado, Sr. Born. Mas foi gentil de sua parte lembrar-se de mim.

A maior parte do pessoal saiu para a Bolsa bem cedo: havia, pesando no ar, a sensação da crise. Born instruiu seu pessoal a fim de que fizesse o possível, antes de mais nada pelos seus clientes pessoais, e meteu-se no seu escritório.

A campainha de abertura foi o sinal para que o inferno se desencadeasse. Os transmissores não tiveram a sombra de uma oportunidade de se manterem em nível com o estouro, inquestionavelmente o maior e o mais escabroso na história das finanças. Born teve certo prazer ao saber que a prontidão com que seus rapazes tinham agido havia permitido diminuir um tanto os prejuízos de seus clientes. Um banqueiro muito importante telefonou para ele durante a manhã, pedindo-lhe que se juntasse a um bolo de um bilhão de dólares, que ergueria o mercado, como exibição de confiança. Born recusou, sabendo que não havia exibição de confiança que pudesse impedir a Mineração e Fundição da Lua de abertura no dia 27 de setembro de 1977. O banqueiro desligou, bruscamente.

A Senhora Illig perguntou:

- O senhor quer receber o Sr. Loring? Ele está aqui.

- Mande entrar.

Loring estava mortalmente pálido, com um exemplar do jornal enrolado e apertado na mão.

- Preciso de algum dinheiro - disse ele.

W. J. Born sacudiu a cabeça:

- Você está vendo como as coisas estão - disse ele.

- O dinheiro está curto. Tive prazer com a nossa sociedade, Loring, mas acho que é tempo de terminá-la. Você recebeu um quarto de milhão de dólares, limpo. Não reclamo nada do seu trabalho...

- Ele lá se foi - disse Loring, rouco. - Não tinha pago o desgraçado equipamento - nem dez centavos de dólar ainda. Estive jogando no mercado. Perdi cento e cinquenta mil na soja, esta manhã. Eles vão desmontar minha máquina e levá-la embora. Preciso de algum dinheiro.

- Não! - praticamente ladrou W. J. Born. - Absolutamente não!

- Vão vir com um caminhão para buscar os geradores esta tarde. Eu os escondi. Minhas ações continuam subindo. E agora... Tudo quanto eu queria era ter o necessário em reserva, para continuar trabalhando. Eu preciso de dinheiro.

- Não - disse Born. - Afinal, a culpa não é minha.

O rosto feio de Loring estava junto do dele.

- Não é? - escarneceu ele. E estendeu o jornal sobre a mesa. Born leu as manchetes - mais uma vez - do Jornal da Bolsa de Valores, do dia 17 de abril de 1975: ESTOURO DE TÍTULOS EM CRISE MUNDIAL - BANCOS SE FECHAM - CLIENTES ARMAM TUMULTO ENTRE FIRMAS CORRETORAS! Dessa vez, porém, ele não estava apressado demais para ler o resto: "Uma queda mundial de títulos ao iniciar-se um pouco antes do fechamento da Bolsa de Valores de Nova York, ontem, fez desaparecer bilhões de dólares em papel. Não se vê ainda o final do catastrófico dilúvio de ordens de venda. Observadores veteranos de Nova York concordam em que a venda em massa de títulos feita por W. J. Born, da Associadas W. J. Born, ontem, à tarde, foi o primeiro motivo a determinar o grande estouro que deve agora ser enfrentado. Os Bancos foram duramente atingidos pelo..."

- Não é? - rosnou Loring. - Não é?

Seus olhos pareciam loucos, quando ele estendeu as mãos para o pescoço fino de Born.

"Dominós" - pensou Born, vagamente, através da dor, e conseguindo, ainda assim, atingir um botão em sua secretária.

A Senhorita Illig entrou, deu um grito, saiu, e tornou a voltar com dois robustos clientes. Mas era tarde demais.


Título Original: Dominoes, 1953