Michael Moorcock Galeia de Capas

Moorcock, Michael (1939– ) 

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Michael Moorcock has had enough careers in the world of publishing for several people. He is one of the most respected fantasy novelists, creator of Elric of Melnibone and the Eternal Champion under various other guises, and has written mainstream novels and spy thrillers. In science fiction, he has written everything from space opera and pastiches of Edgar Rice BURROUGHS to finely crafted and serious work, including Hugo and Nebula Award winners. He edited New Worlds Magazine for several years and was one of the major figures in the British New Wave movement, which helped provide a forum for the experimental work of J. G. BALLARD, Langdon Jones, Thomas DISCH, and other writers of that period. His JERRY CORNELIUS SERIES is the best-known example of the innovative and nontraditional writing styles associated with the New Wave movement; that series, to which Moorcock continues to add, is virtually the only remnant of the New Wave’s nonrealistic and self-conscious styling that has remained in print.

Don D'Ammassa, Encyclopedia of Science Fiction, 2002.

TERRASSOL — Lançamento em Londrina 17-12-14

Convite


   Convido a todos os que estiverem na cidade de Londrina-PR no dia 17, uma quarta-feira de dezembro as 20:30, para o lançamento do meu primeiro livro de contos de ficção científica Terrassol.  

   A coletânea de contos TERRASSOL é diversão garantida para todos os públicos, não apenas para os apreciadores de ficção científica. Mas, como em toda obra maior desse gênero, não deixa de instigar sérios questionamentos sobre os caminhos da ciência, o progresso materialista e o futuro da sociedade e do indivíduo. Montada no formato de um longo dossiê alienígena com o que restou das lendas, das crônicas, dos documentos oficiais e dos escritos poéticos da única espécie dita inteligente de Terrassol. 
Os contos são narrados com bom humor e com precisão científica em quanto às leis e as teorias vigentes, ampliando com isso o seu escopo, pois a obra passa a ter também um caráter didático e de divulgação científica. 
   Nestes vinte e cinco contos de Terrassol, estão presentes diversas ciências: a realidade virtual, a ecologia, a psicologia, a engenharia genética, a clonagem, neurologia, a nanotecnologia, a botânica, além de outras abordagens como a mitologia, a ufologia ou a psicanálise Jungiana. Todas relacionadas de um modo ou de outro, no sentido de procurar mostrar uma realidade mais ampla que essa nossa visão da vida cotidiana trivial e limitada, pois ao deslocar o leitor para essa escala planetária e levá-lo adiante tanto no tempo como no espaço, está se cumprindo o objetivo principal de todo escritor de ficção científica, que é causar esse distanciamento no leitor, juntamente com essa emoção cósmica de se pensar, não mais como indivíduo atarefado e ausente das questões científicas e planetárias, mas como um verdadeiro ser humano, terráqueo e participante dos demais planetas do universo, tenhamos ou não conhecimento da sua existência.
   A ilustração sempre foi um recurso editorial para despertar o interesse do leitor, especialmente na ficção científica, a qual, devido às suas possibilidades ilimitadas de concepção de outros mundos ou de futuros inimagináveis, com o uso da gravura se projeta no leitor um pouco do clima mental necessário para que ele “viaje” na história. Dessa forma, no livro TERRASSOL se agregam dois valores artísticos: o literário e o de ilustração. Com isso fazemos uma homenagem ao gênero publicando-o em um formato mais próximo do original o que também o deixa mais acessível aos jovens leitores de hoje. As ilustrações do livro trazem assinatura do arte educador, músico e desenhista Marcelo Galvan
   A Atrito Arte publica, pela primeira vez, um livro de ficção científica. E não poderia ter feito melhor escolha, afinal, a literatura londrinense não estaria completa sem ele.

Christine Vianna — Editora

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Galeria de Capas — Isaac Asimov

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Isaac Asimov (em russo: Исаак Юдович Озимов; transl.: Isaak Yudavich Azimov; Petrovichi, ca. 2 de janeiro de 1920 — Nova Iorque, 6 de abril de 1992), foi um escritor e bioquímico americano, nascido na Rússia, autor de obras de ficção científica e divulgação científica.

Asimov é considerado um dos mestres da Ficção Científica e, junto com Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, foi considerado um dos "três grandes" da ficção científica. A obra mais famosa de Asimov é asérie da Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com sua outra grande série dos Robots. Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande quantidade de não-ficção. No total, escreveu ou editou mais de 500 volumes, aproximadamente 90 000 cartas ou postais, e tem obras em cada categoria importante do sistema de classificação bibliográfica de Dewey, exceto em filosofia.

A maioria de seus livros mais populares sobre ciência, explicam conceitos científicos de uma forma histórica, voltando no tempo o mais longe possível, quando a ciência em questão estava nos primeiros estágios. Ele providencia, muitas vezes, datas de nascimento e falecimento dos cientistas que menciona, também etimologias e guias de pronunciação para termos técnicos. Alguns exemplos incluem, "Guide to Science", os três volumes de "Understanding Physics" e a "Chronology of Science and Discovery", e trabalhos sobre Astronomia, Matemática, a Bíblia, escritos de William Shakespeare e Química.

Asimov foi membro e vice-presidente por muito tempo da Mensa, ainda que com falta: ele os descrevia como "intelectualmente combalidos". Exercia, com mais frequência e assiduidade, a presidência da American Humanist Association (Associação Humanista Americana).

Em 1981, um asteroide recebeu seu nome em sua homenagem, o 5020 Asimov. O robô humanóide "ASIMO" da Honda, também pode ser considerada uma homenagem indireta a Asimov, pois o nome do robô significa, em inglês, Advanced Step in Innovative Mobility, além de também significar, em japonês, "também com pernas" (ashi mo), em um trocadilho linguístico em relação à propriedade inovadora de movimentação deste robô. [Wikipedia]



Neandertal — Poema de Marijane Allen

Reconstrução de um grupo Neandertal
Johannes Krause, Neandertal group by Atelier Daynes, Paris, France. In: Museum of the Krapina Neanderthals, Krapina, Croatia.

NEANDERTAL

Marijane Allen

"Vejam que exemplar intrigante..."
Ao vê-lo, eu me pergunto o que aconteceu quando
os seus profetas não encontraram nenhum futuro previsível.

Eu me pergunto o que ele viu quando o esquecimento
o atingiu como os ventos gelados. Quê inferno
levou-o às cavernas de Dussel
para ali morrer, possuído de uma fome insaciável?

Que fome de amanhã poderia ter aquela raça
caminhando para a morte em uma estrada de aberrações?

Mancando desajeitadamente para a extinção
porque o Criador esqueceu algum detalhe
desconhecido para nós. "Intrigante exemplar..."

Raça sem futuro, me pergunto o que ela viu.

In Apeman, Spaceman. Ed. Leon E. Stover, Harry Harrison. Penguim Books, 1979.

Tradução: Herman Schmitz

Herman Schmitz convida para o lançamento de TERRASSOL


ATRITO ARTE orgulhosamente convida para o lançamento
de TERRASSOL de HERMAN SCHMITZ
17 de dezembro de 2014, 20h30
Na Vila Cultural Cemitério de Automóveis
Rua João Pessoa, 103-A

A coletânea de contos TERRASSOL é diversão garantida para todos os públicos, não apenas para os apreciadores de ficção científica. Mas, como em toda obra maior desse gênero, não deixa de instigar sérios questionamentos sobre os caminhos da ciência, o progresso materialista e o futuro da sociedade e do indivíduo. Montada no formato de um longo dossiê alienígena com o que restou das lendas, das crônicas, dos documentos oficiais e dos escritos poéticos da única espécie dita inteligente de Terrassol.
Os contos são narrados com bom humor e com precisão científica em quanto às leis e as teorias vigentes, ampliando com isso o seu escopo, pois a obra passa a ter também um caráter didático e de divulgação científica.

Nestes vinte e cinco contos de Terrassol, estão presentes diversas ciências, começando pela realidade virtual, a ecologia, a biologia, a sociologia, a psicologia, a engenharia genética, a clonagem, a meteorologia, a física, a antropologia, a neurologia, a nanotecnologia, a botânica, além de outras abordagens como a mitologia, a ufologia ou a psicanálise Jungiana. Todas relacionadas de um modo ou de outro, no sentido de procurar mostrar uma realidade mais ampla que essa nossa visão da vida cotidiana trivial e limitada, pois ao deslocar o leitor para essa escala planetária e levá-lo adiante tanto no tempo como no espaço, está se cumprindo o objetivo principal de todo escritor de ficção científica, que é causar esse distanciamento no leitor, juntamente com essa emoção cósmica de se pensar, não mais como indivíduo atarefado e ausente das questões científicas e planetárias, mas como um verdadeiro ser humano, terráqueo e participante dos demais planetas do universo, tenhamos ou não conhecimento da sua existência.

A ilustração sempre foi um recurso editorial para despertar o interesse do leitor, especialmente na ficção científica, a qual, devido às suas possibilidades ilimitadas de concepção de outros mundos ou de futuros inimagináveis, com o uso da gravura se projeta no leitor um pouco do clima mental necessário para que ele “viaje” na história. Dessa forma, no livro TERRASSOL se agregam dois valores artísticos: o literário e o de ilustração. Com isso fazemos uma homenagem ao gênero publicando-o em um formato mais próximo do original o que também o deixa mais acessível aos jovens leitores de hoje. As ilustrações do livro trazem assinatura do arte educador, músico e desenhista Marcelo Galvan
A Atrito Arte publica, pela primeira vez, um livro de ficção científica. E não poderia ter feito melhor escolha, afinal, a literatura londrinense não estaria completa sem ele.

HERMAN SCHMITZ
Natural de Curitiba, vive em Londrina desde 1991. Iniciou a sua carreira artística atuando, dirigindo e escrevendo para teatro. É músico diletante e montou a banda de música e poesia Radicais Livres para divulgar sua produção literária. Trabalhou em busca do dinheiro vil por muitos anos fazendo suporte técnico em informática. Escreve poemas e contos desde muito jovem, entretanto o seu primeiro livro, Os Maracujás, só foi publicado de forma independente em 2007. Mantém o blog de ficção científica literária <marcianoscomonocinema.blog-spot.com.br>.Terrassol é o seu primeiro livro de contos.

LANÇAMENTO
17 de dezembro de 2014, 20h30
Onde: Vila Cultural Cemitério de Automóveis
Rua João Pessoa, 103-A, Londrina
Valor do livro: R$20,00

Tubo digestivo abajo y al cosmos con mantra, tantra, y lluvia de estrellas - Robert Sheckley (Cuento)

Tubo digestivo abajo y al cosmos con mantra, tantra, y lluvia de estrellas

Robert Sheckley



Según nos dicen, la experimentación con drogas psicodélicas ha abierto todo un nuevo campo de exploración al hombre: el universo interior, es decir el que existe en su propia mente. Pero es bien sabido que los mensajes facilitados al cerebro por los sentidos bajo los efectos de estas drogas van deformados... aunque, ¿quién sabe si esas sensaciones deformadas no serán la realidad, que no perciben los sentidos en su estado normal?
-¿Pero tendré realmente alucinaciones? -preguntó Gregory.

-Como ya te he dicho, te lo garantizo -le contestó Blake-. Ya deberías estar empezando. Gregory miró a su alrededor. La habitación era desconsoladora y tediosamente familiar: una estrecha cama azul, un armario de nogal, una mesa de mármol con base de hierro forjado, una lámpara de dos cabezas, una alfombra color rojo y un aparato de televisión marrón claro. El estaba sentado en un sillón tapizado. Frente a él, en un sofá de plástico blanco, se hallaba Blake, jugueteando con tres pastillas moteadas de colores y de forma irregular.

-Quiero decir -prosiguió Blake-, que hay todo tipo de ácido por ahí: pastillas, cápsulas rojas, la mayor parte de él mezclado con anfetaminas o con alguna otra cosa. Pero tú has tenido la gran fortuna de acabar de ingerir el cóctel especial de superácidos, especialmente tántrico y mántrico, de efectos instantáneos, preparado por el doctor Blake y conocido entre los camellos como Lluvia de Estrellas, y que contiene tales aditivos como el STP, el DMT y el THC, así como un pellizco de yague, una pizca de silocibina, un toque de oloiuqu y además el ingrediente especial del doctor Blake: extracto de bayas silvestres, el más nuevo y potente de los potenciadores alucinogénicos.

Gregory estaba mirando su mano derecha, abriéndola y cerrándola lentamente.

-El resultado -prosiguió Blake-, es la increíble, total e instantánea, así como multiesplendorosa explosión de ácidos del doctor Blake, garantizada para hacerte alucinar al menos un cuarto de hora, o te devolveré tu dinero y colgaré mis hábitos como el mejor químico underground que jamás haya existido en el West Village.

-Tú sí que suenas como si estuvieras alucinado -dijo Gregory.

-En lo más mínimo -protestó Blake- Simplemente, estoy alto en speed, simples y anticuadas anfetaminas, tales como tragan a kilos o se inyectan a litros los camioneros y los estudiantes universitarios. El speed no es más que un estimulante. Con su ayuda puedo hacer mi trabajo más deprisa y mejor. Y mi trabajo es crear mi propio y rápido imperio de las drogas entre Houston y la Calle Catorce, y luego desaparecer con rapidez, antes de que me queme los nervios o caigan sobre mí los agentes de narcóticos o la Mafia, para entonces largarme a Suiza en donde me dedicaré a volar en un espléndido sanatorio rodeado por mujeres alegres, nutridas cuentas de banco, coches rápidos y el respeto de los políticos locales.

Blake hizo una pausa por un instante y se frotó su labio superior.

-El speed lo que hace es dar un cierto sentido de grandilocuencia, con el acompañamiento de verborrea... pero no tengas miedo, mi recientemente encontrado amigo y estimado cliente, puesto que mis sentidos se hallan más o menos en orden y soy totalmente capaz de actuar como tu guía en el supervuelo jumbo en el que ahora te hallas embarcado.

-¿Cuánto tiempo ha pasado desde que tomé esa pastilla? -preguntó Gregory.

Blake miró a su reloj.

-Hace más de una hora.

-¿No debería estar actuando ya?

-Ya lo creo que debería. Indudablemente lo está. Debe de estar sucediendo algo.

Gregory miró a su alrededor. Vio el pozo tapizado de cristal, la luciérnaga que pulsaba, la mica apisonada, el grillo cautivo. Estaba en el lado del pozo más cercano a la cañería de escape. Al otro lado, sobre la musgosa piedra gris, se hallaba Blake, con sus cilios alborotados y su exodermis punteada, jugueteando con tres pastillas moteadas de colores y de forma irregular.

-¿Qué es lo que pasa? -preguntó Blake.

Gregory se rascó la dura membrana que tenía sobre su tórax. Sus cilios ondearon espasmódicamente en clara evidencia de su asombro, desencanto e incluso quizá, miedo. Tendió un palpo, lo contempló largo y duro, lo dobló por la mitad y lo volvió a tender.

Las antenas de Blake apuntaban rectas hacia arriba en un gesto de preocupación.

-¡Hey, muchacho, háblame! ¿Estás alucinando?

Gregory hizo un movimiento indeterminado con su cola.

-Empezó hace poco, cuando te pregunté si realmente tendría alguna alucinación. Ya estaba alucinando entonces pero no me daba cuenta, pues todo parecía muy natural, muy ordinario... Estaba sentado en un sillón, tú estabas en un sofá y ambos teníamos una piel blanda como... ¡como la de los mamíferos!

-El paso a la ilusión es, a menudo, imperceptible -dijo Blake-. Uno entra y sale de ellas. ¿Qué es lo que ves ahora?

Gregory enrolló su cola segmentada y relajó sus antenas. Miró a su alrededor. El pozo era desconsoladora y tediosamente familiar.

-Oh, ya he vuelto a la normalidad. ¿Crees que voy a tener más alucinaciones?

-Como ya te he dicho, te lo garantizo -dijo Blake, plegando cuidadosamente sus alas color rojo brillante y arrellanándose confortablemente en un rincón del nido.


FIN

Down the digestive tract and into the cosmos with mantra, tantra and specklebang, © 1971 by Robert Sheckley. Traducción de: ?, en nueva dimensión 60 (Los mejores cuentos cortos de la ciencia ficción mundial).

El elefante - Slawomir Mrozek (Cuento)

El elefante - Slawomir Mrozek



Slawomir Mrozek es un renombrado autor teatral, uno de los más conocidos fuera de las fronteras de su país, Polonia. Entre sus obras cabe destacar Tango y El policía, que han conocido un gran éxito mundial y han sido representadas también en los escenarios de nuestro país. Como narrador, Mrozek se apunta a la fantasía y al humor absurdo, siendo comparado en algunos aspectos al checo Kafka. En El elefante, que da título a uno de sus más conocidos volúmenes de cuentos, Mrozek critica, en clave de ácido humor, el acientifismo crónico de nuestros más sesudos estamentos científicos.


El director del Jardín Zoológico ha demostrado ser un advenedizo. Consideraba a sus animales simplemente como peldaños en la escalera de su propia carrera. Era indiferente a la importancia educativa de su establecimiento. En su Zoo la jirafa tenía un cuello corto, el tejón no tenía madriguera y los silbadores, habiendo perdido todo interés, silbaban rara vez y con cierta reluctancia. Estos fallos no deberían haber sido permitidos, especialmente dado que el Zoo era visitado a menudo por grupos de escolares.

El Zoo estaba situado en una ciudad provinciana, y le faltaban algunos de los animales más importantes, entre ellos el elefante. Tres mil conejos eran un pobre substituto para el noble gigante. Sin embargo, a medida que nuestro país se desarrollaba, iban siendo colmados los huecos en forma bien planificada. Con ocasión del aniversario de la liberación, el 22 de julio, se le notificó al Zoo que finalmente se le había asignado un elefante. Todo el personal, devoto de su trabajo, se alegró ante esta noticia, y por consiguiente fue muy grande la sorpresa cuando se enteraron de que el director había enviado una carta a Varsovia, renunciando a la asignación y presentando un plan para obtener un elefante por medios más económicos.

"Yo, y todo el personal", había escrito, "nos damos cuenta de la pesada carga que cae sobre los hombros de los mineros y los obreros metalúrgicos polacos a causa del elefante. Deseosos de reducir costos, sugiero que el elefante mencionado en su comunicado sea reemplazado por uno realizado por nosotros mismos. Podemos construir un elefante de goma, del tamaño correcto, llenarlo de aire y colocarlo tras una cerca. Será cuidadosamente pintado con el color correcto y hasta de cerca resultará indistinguible del verdadero animal. Es bien conocido que el elefante es un animal lento y pesado, y que ni corre ni salta. En el cartel de la cerca podemos indicar que este elefante en particular es especialmente lento y pesado. El dinero ahorrado de esta manera podrá ser dedicado a comprar un avión a reacción o a conservar algún monumento religioso.

"Le ruego humildemente que tenga en cuenta que tanto la idea como su ejecución son mi modesta contribución a la tarea y lucha comunes.

"Quedo, etc."

Este comunicado debió llegar a algún burócrata sin alma, que contemplaba sus tareas en una forma puramente mecánica, y que no examinó la trascendencia del asunto sino que, siguiendo únicamente las directrices acerca de la reducción de gastos, aceptó el plan del director. Al tener noticia de la aprobación del Ministerio, el director dio órdenes para que se confeccionara el elefante de goma.

Este iba a ser hinchado de aire por dos empleados que soplarían por extremos opuestos. Para mantener la operación en secreto, el trabajo se realizaría durante la noche, pues los habitantes de la ciudad, habiendo oído que iba a llegar un elefante al Zoo, estaban ansiosos por verlo. El director insistió en dar prisas, además, porque esperaba un premio, si su idea resultaba ser un éxito.

Los dos empleados se encerraron en un cobertizo que habitualmente albergaba un taller, y comenzaron a soplar. Tras dos horas de duros esfuerzos, descubrieron que la piel de goma apenas se había alzado unos centímetros sobre el suelo y que la masa no se parecía en lo más mínimo a un elefante. Transcurría la noche. En el exterior, las voces humanas se habían acallado y solo los gritos de los chacales cortaban el silencio. Exhaustos, los empleados dejaron de soplar y se aseguraron de que el aire que ya estaba en el interior del elefante no se escapase. Ya no eran jóvenes y no estaban acostumbrados a este tipo de trabajo.

-Si seguimos a este ritmo -dijo uno de ellos-, no acabaremos antes de la mañana y, ¿qué es lo que le voy a decir a mi señora? Nunca me creerá si le digo que he pasado la noche hinchando un elefante.

-Tienes razón -admitió el segundo empleado-. El hinchar un elefante no es un trabajo que se dé todos los días. Y todo porque nuestro director es un izquierdista.

Siguieron soplando, pero después de otra media hora se sintieron demasiado cansados como para continuar. El bulto en el suelo era mayor, pero aún seguía sin tener la forma de un elefante.

-Cada vez resulta más difícil -dijo el primer empleado.

-Sí, es un trabajo cuesta arriba -convino el segundo-. Descansemos un poco.

Mientras estaban descansando, uno de ellos se fijó en una tubería de gas rematada por una espita. ¿No podrían llenar el elefante con gas? Se lo sugirió a su compañero.

Decidieron intentarlo. Enchufaron el elefante a la cañería de gas, abrieron la espita y, para su alegría, vieron como a los pocos minutos se alzaba un animal de buen tamaño en el cobertizo. Parecía real: el enorme cuerpo, patas como columnas, grandes orejas y la inevitable trompa. Movido por su ambición, el director se había asegurado el tener en su Zoo un elefante verdaderamente grande.

-De primera clase -declaró el empleado que había tenido la idea de usar el gas-. Ahora ya podemos irnos a casa.

Por la mañana, el elefante fue trasladado a un lugar especial, muy céntrico, junto a la jaula de los monos. Colocado frente a una gran roca verdadera, parecía imponente y magnífico. Un gran cartel proclamaba: "Particularmente lento y pesado. Apenas si se mueve."

Entre los primeros visitantes de aquella mañana se hallaba un grupo de niños de la escuela local. El maestro que los tenía a su cargo planeaba darles una lección acerca del elefante. Detuvo al grupo frente al animal y comenzó:

-El elefante es un mamífero herbívoro. Por medio de su trompa arranca arbolillos y se come sus hojas.

Los niños estaban contemplando al elefante con embelesada admiración. Esperaban que arrancase un arbolillo, pero la bestia permanecía quieta tras la cerca.

-...el elefante es un descendiente directo del ya extinto mamut. Por consiguiente, no es sorprendente que sea el más grandes de los animales terrestres hoy vivos.

Los alumnos más conscientes estaban tomando notas.

-...solo la ballena es más pesada que el elefante, pero la ballena vive en el mar. Podemos decir, con toda seguridad, que en tierra firme el elefante reina supremo.

Una suave brisa movió las ramas de los árboles del Zoo.

-...el peso de un elefante adulto es de tres y media a cinco toneladas.

En aquel momento, el elefante se estremeció y se alzó en el aire. Por unos segundos flotó a poca altura sobre el suelo, pero una ráfaga de viento lo arrastró hacia arriba hasta que su gigantesca silueta quedó recortada contra el cielo. Durante un corto espacio de tiempo, la gente pudo ver desde abajo los cuatro círculos de sus patas, su abultada tripa y la trompa, pero pronto, impulsado por el viento, el elefante voló sobre la cerca y desapareció por encima de las copas de los árboles. Los asombrados monos se quedaron mirando al cielo desde el interior de su jaula.

Hallaron al elefante en el cercano jardín botánico. Había aterrizado sobre un cactus y había pinchado su piel de goma.

Los escolares que habían contemplado la escena en el Zoo pronto comenzaron a descuidar sus estudios y se convirtieron en gamberros. Se dice que beben licores y rompen ventanas. Y ya no creen en los elefantes.


Elefantti, ©1957 by Slon. Traducido por Sebastián Castro en La ciencia-ficción europea, relatos de ciencia ficción presentados por Domingo Santos, biblioteca básica de ciencia ficción 9, Ediciones Dronte, 1982.
Edición digital de Elfowar y Umbriel
Revisión de urijenny (odoniano@yahoo.com.ar)

Galeria de capas — L. Sprague de Camp




Lyon Sprague de Camp (November 27, 1907 – November 6, 2000) was an American writer of science fiction, fantasy, non-fiction and biography. In a career spanning 60 years, he wrote over 100 books, including novels and works of non-fiction, including biographies of other fantasy authors. He was a major figure in science fiction during the genre's heyday in the 1930s and '40s.

Galeria Ed Emshwiller

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Ilustradores da FC - ED EMSHWILLER (bio)

ED EMSHWILLER

(1925-1990)

Edmund Alexander Emshwiller was born February 16, 1925 in Lansing, Michigan. His father was Errol Emshwiller, born 1896 in Indiana. His mother was Susie MacLellan, born 1895 in Michigan. His parents were married in 1923. He was firstborn of their two children. His little brother Mac Lellan Emshwiller was born in 1928. His father was a veteran of WWI and a teacher at a local college, the Ferris Institute. They lived at 409 Marion Street in Big Rapids City, Michigan.

By 1940 his family had moved to Richmond, Virginia, where his father had been hired to work at the U. S. Patent Office. They lived at 1510 Laburnum Avenue.

He attended high school and on June 25, 1943, when his Junior semester was over, he enlisted for military service in WWII. His occupation was listed as motion picture projectionist.

After the war he attended college and graduated in 1948. He went to Paris in 1949 and studied for one year at the Ecole des Beaux Arts.

He created a few covers for pulp magazines, but he mostly did interior story illustrations for Planet Stories, Future Science Fiction, Thrilling Wonder, Starling Stories, and Amazing Stories. He created many more interior story illustrations and covers for digest magazines such as Galaxy, Fantastic Story, Mercury Mystery Book, Astounding Science-Fiction, Fantasy and Science Fiction, and Space Stories.

He married Carol Fries on August 30, 1949. They raised a daughter, Susan, and a son, Peter.

In the 1950s and 1960s "Emsh" also created hundreds of covers for paperbacks and hardback books, for such publishers as Gold Medal Books and Ballantine Books. He also made story illustrations for men's adventure magazines, such as Sportsman and True Action.

In the 1960s and 1970s Ed Emshwiller worked extensively with 16mm experimental underground films, and was an active member in the independent film movement in California. He was the Dean of the School of Film at the California Institute of Arts, in Valencia, CA, from 1979 to 1990.

Ed Emshwiller died of cancer at age 65 on July 27, 1990.

Cordwainer Smith Y La Ciencia Ficción

CORDWAINER SMITH Y LA CIENCIA FICCIÓN


Hace treinta años publiqué un cuento en una revista llamada Fantasy Book. En realidad era sólo medio cuento (se trataba de una colaboración con Isaac Asimov, titulada Little Man on the Subway), y en realidad Fantasy Book era sólo media revista, ya que no duró demasiado ni llegó a un vasto público. Ni siquiera a mí me habría llegado de no haber sido un colaborador, o medio colaborador. Pero, qué diablos, contenía algunos cuentos buenos, y el mejor era uno titulado "Los observadores viven en vano", de un autor llamado Cordwainer Smith.

¿Cordwainer Smith? ¡Un cuerno! Enseguida me pregunté quién se escondía detrás de ese nombre. Henry Kuttner jugaba al escondite con los pseudónimos en aquella época, y también Roben A. Heinlein. Y la excelencia y la originalidad de "Los observadores viven en vano" eran dignas de cualquiera de los dos. Pero no seguía el estilo, o ninguno de los estilos, que yo asociaba con ellos. Además, lo negaron. ¿Theodore Sturgeon? ¿A. E. van Vogt? No, tampoco. Entonces, ¿quién?

No parecía probable que fuera un novato. Al margen del esquivo pseudónimo, había en «Observadores» demasiados matices, innovaciones y conceptos estimulantes como para que yo creyera por un segundo que no se trataba de la creación de un maestro de la ciencia ficción. No sólo era bueno. Era el trabajo de un experto. Ni siquiera los escritores excelentes lo son tanto en los primeros relatos.

Poco después firmé un contrato para publicar una antología de ciencia ficción con una sucursal de Doubleday que se titularía Beyond the End of Time. Esto me agradaba, entre otras cosas porque me daría la oportunidad de presentar Los observadores viven en vano a un público cien veces mayor que el de Fantasy Book. Y había una importante ventaja marginal: alguien tendría que firmar la autorización para publicar el cuento, y entonces le echaría el guante.

Pero no ocurrió así. La autorización vino firmada por Forrest J. Ackerman, como agente literario de Cordwainer Smith. Por un breve y frenético período creí que el mismo Forrest había escrito el cuento, pero él me aseguró que no. Y así quedaron las cosas. Transcurrió casi una década. Hasta que llegó el momento en que yo seleccionaba material para Galaxy y sonó mi teléfono. «¿Señor Pohl? —dijo el hombre del otro lado—. Soy Paul Linebarger.»

Dije «Aja» con un tono cuyo sentido él captó de inmediato como; ¿Y quién cuernos es Paul Linebarger? Se apresuró a añadir: «Escribo bajo el seudónimo de Cordwainer Smith.»

¿Quién es, pues, Paul Linebarger?

Permitan ustedes que les cuente una historia. Hace un par de años yo estaba viajando por Europa oriental como representante del Departamento de Estado de Estados Unidos, hablando de ciencia ficción a públicos integrados por polacos, macedonios y georgianos soviéticos, entre otros. La ciencia ficción norteamericana merece una gran aceptación en casi todo el mundo, incluida esa región. A mí me recibieron con cordial hospitalidad, al menos los europeos orientales; y a menudo, aunque no siempre, también los diplomáticos norteamericanos, que tenían la misión de mantenerme ocupado y alejado de posibles enredos. Lo peor de todo fue una cena en una embajada, en un país cuyo embajador estadounidense era un envarado tipo de la vieja escuela, que nunca había leído ciencia ficción ni se proponía leerla, y estaba visiblemente disgustado por la maligna jugarreta del destino que lo había obligado a charlar con una persona que se ganaba la vida escribiendo esa bazofia. No se ablandó hasta que llegamos al café y surgió el nombre de Cordwainer Smith. Yo mencioné su verdadero nombre. El embajador casi soltó la copa: «¿El doctor Paul Linebarger? ¿El profesor de Johns Hopkins?» «El mismo», respondí. «¡Pero si fue mí maestro!», exclamó el embajador. Y durante el resto de la velada no pudo mostrarse más encantador.

El profesor Linebarger enseñó relaciones exteriores no sólo a este embajador, sino a muchos más. Y no se limitaba a hablar de los acontecimientos sino que participaba activamente en ellos. Criado en China, dominaba el idioma a la perfección. También conocía varias lenguas más, y frecuentaba el Departamento de Estado para dar conferencias, explicar, conversar o negociar. Incluso en inglés. Una vez lo justificó de este modo: «Es porque yo puedo hablar... mucho... más... despacio... y... claramente... que... la... mayoría... de... las... personas.» Lo cual era cierto. Y, sin duda, él representó una gran ayuda para muchas personas cuyo inglés era defectuoso. Pero no creo ni por un segundo que ésa fuera la razón. El Departamento de Estado valoraba lo que valoramos todos: no la capacidad de expresión, sino la mente que la modelaba, sabia, ágil y amplia.

Viajero, profesor, escritor, diplomático, erudito, Paul Linebarger tuvo una vida fascinante. Si no hablo más sobre ella es porque no quiero repetir lo que John Jeremy Pierce ya ha dicho muy bien en su excelente ensayo1. La mayoría de los escritores, en su vida privada, son tan aburridos como el agua estancada. La vida de Paul Linebarger fue tan pintoresca como sus novelas.

Si ustedes no han leído mucha ciencia ficción, quizá se estén preguntando: «¿Quién es, pues, Cordwainer Smith?» Les contaré algo sobre su obra, y por qué fue y sigue siendo algo especial para muchos de nosotros.

Empecemos por esto. Toda la ciencia ficción es especial. No convence a todo el mundo, y es muy raro que a alguien le guste toda. Se presenta en una amplia gama de formas y sabores. Algunos son suaves y familiares, como la vainilla. Algunos son exóticos y difíciles de asimilar la primera vez, como un happening de esculturas de Tinguely. Ésa es una de las características que me atraen en la ciencia ficción: su exploratorio empleo de las incongruencias. Cuando este rasgo se lleva hasta el extremo, se convierte en una precaria danza sobre la cuerda floja, la audacia en equilibrio con el desastre; la imaginación del escritor y la tolerancia del lector se estiran hasta el punto del colapso catastrófico. Un milímetro más y todo se desmorona. Lo que quería ser desconcertante e innovador puede volverse simplemente absurdo. A. E. van Vogt caminó maravillosamente por esta angosta senda, y también Jack Vance; Samuel R. Delany lo hace ahora; pero nadie, jamás, lo ha hecho con más atrevido éxito que Cordwainer Smith. ¡El exotismo de sus conceptos, personajes e incluso palabras! Congohelio y stroon. Gentes-gato y robots con cerebro de ratón. Autopistas abandonadas de kilómetros de altura, y muertos que se mueven, actúan, piensan y sienten. Smith creó mundos de maravilla. Y nos convenció de que eran reales.

En parte lo consiguió gracias a su fino oído para el sonido y el sentido de las palabras. Su prosa cambió y se desarrolló durante los breves años de su corta carrera, y demostró una vez tras otra que la palabra adecuada era la palabra imprevista. El instinto verbal de Smith es tan personal que se puede detectar aun en el título de sus cuentos, aunque quizá no tan directamente como cabría imaginar. Una vez, James Blish apartó los ojos con deleite del último número de Galaxy y dijo: «Lo que más recuerdo de Cordwainer Smith son esos títulos maravillosamente personales.» Le pregunté a qué títulos se refería en particular. James respondió: «Bien, a todos. La Dama muerta de Clown Town, La balada de G'mell, Piensa azul, cuenta basta dos, por nombrar tres.» Le dije que eso me parecía curioso, porque ninguno de ellos había sido el título original de Smith. Yo había puesto título a esos cuentos al publicarlos. Pero James estaba en lo cierto, porque yo no los había inventado. Simplemente, habían surgido del texto de Smith.

Paul Linebarger no era un solitario. En realidad, todo lo contrario. Era gregario y locuaz, viajaba mucho, pasaba mucho tiempo en clases y reuniones. Pero no quería conocer a escritores de ciencia ficción. No porque no le gustaran. Era casi una superstición. Una vez había iniciado una carrera como escritor. Había publicado dos novelas, Carola y Ría, ninguna de ellas de ciencia ficción; ambas me recuerdan las novelas de Robert Briffault sobre política europea, Europa y Europa in Limbo. Se había propuesto continuar, pero no pudo hacerlo. Las novelas se habían publicado con el seudónimo Félix C. Forrest. Habían llamado bastante la atención y mucha gente se había preguntado quién era «Félix C. Forrest», y algunos lo habían averiguado. Por desgracia. Lo lamentable fue que cuando Paul entró en contacto directo con los lectores de «Forrest», ya no pudo escribir para ellos. ¿Sucedería lo mismo con la ciencia ficción en las mismas circunstancias? No lo sabía, pero no quería correr el riesgo.

Así que Paul Linebarger mantuvo su seudónimo en secreto. No asistía a las reuniones que celebraban los escritores y lectores de ciencia ficción. Cuando en 1963 se celebró la Convención Mundial de Ciencia Ficción en Washington, a un par de kilómetros de su casa, le pedí que asistiera para evaluar la situación. Yo no revelaría a nadie quién era él. SÍ lo prefería, podía dar media vuelta y largarse. De lo contrario... bien, no.

Paul reflexionó y al final, a regañadientes, decidió no arriesgarse. Pero dijo que había un par de individuos a quienes le gustaría conocer si ellos aceptaban ir a su casa. Y así ocurrió. Fue una tarde maravillosa, naturalmente. Tenía que serlo. Paul era un cordial anfitrión, y Genevieve —su ex alumna, y por entonces su esposa— una espléndida anfitriona. Bajo el acta de nacimiento en pergamino escarlata y oro escrita en caligrafía por el padrino de Paul, Sun Yat-sen, bebiendo pukka pegs (cócteles de ginger ale y brandy, los cuales, según Paul, habían permitido sobrevivir al ejército británico en la India), las vibraciones eran óptimas con aquella estimulante compañía.

Y no perjudicó en nada a su manera de escribir, ni entonces ni después. Continuó escribiendo, y en todo caso mejor que nunca. Disfrutó tanto de la compañía de sus invitados —en particular, Judith Merril y Algis Budrys— que se sintió más inclinado a conocer a otros escritores. Poco a poco lo hizo. Conoció a algunos en persona, a otros por correspondencia, a la mayoría por teléfono, y creo que no estaba lejos el momento en que Paul Linebarger se hubiera presentado en una convención de ciencia ficción. Tal vez en muchas. Pero el tiempo se agotó. Murió de un ataque cardíaco en 1966, a la injusta edad de cincuenta y tres años.

Toda obra importante de ficción está parcialmente escrita en clave. Lo que leemos en una frase no es siempre lo que el autor tenía en mente cuando la escribió, y hay veces — oh, demasiadas veces— en que ni siquiera el autor sabe exactamente lo que quiere decir. Esto no siempre constituye un defecto. En ocasiones es una necesidad. Cuando una mente humana, que está encerrada dentro del cráneo, que percibe el universo sólo a través de sus engañosos sentidos, y se comunica sólo a través de imprecisas palabras, busca significados complejos y modelos de comprensión, resulta difícil lograr una expresión explícita. Cuanto más altas sean las aspiraciones, más ardua es la tarea. Las aspiraciones de Cordwainer Smith iban a veces más allá de lo visible.

Paul me enseñó a descifrar algunos de sus mensajes, pero sólo los fáciles. En los archivos de la colección de manuscritos de la Universidad de Syracuse hay, o debería haber, una copia comentada de sus manuscritos con instrucciones para interpretarlos. Esos relatos constituían una parábola acerca de la política en el Medio Oriente. Se había tomado el trabajo de anotarme en los márgenes qué personajes del futuro remoto representaban a políticos actuales de Egipto o del Líbano.

Es el juego de muchos escritores. A veces resulta divertido, pero a mí no me convence demasiado. Lo que me agradaría descifrar en la obra de Cordwainer Smith es mucho más complicado. Sus intereses trascendían la vida actual y la política contemporánea, e incluso quizá la experiencia humana. Religión. Metafísica. Sentido último. La búsqueda de la verdad. Cuando uno se propone encerrar la verdad última en una red de palabras, se necesita mucha paciencia y destreza. La presa es esquiva. Peor aún. Se necesita también mucha fe, y una gran dosis de terquedad, porque lo que se busca tal vez no existe. ¿Se refiere la religión a algo «real»? ¿Hay un «sentido» del universo?

Los cuentos de Cordwainer Smith son ciencia ficción, claro que sí. Pero al menos los mejores de ellos pertenecen a esa ciencia ficción tan especial que C. S. Lewis denominó «ficción escatológica». No tratan sobre el futuro de seres humanos como nosotros. Tratan sobre lo que viene después de los seres humanos como nosotros. No dan respuestas, sino que plantean preguntas y nos alientan a plantearlas nosotros también. Con la aparición de la serie de los Señores de la Instrumentalidad quedan publicados todos los cuentos de ciencia ficción escritos por «Cordwainer Smith». Abarcan apenas cuatro volúmenes. Su carrera de escritor de ciencia ficción duró menos de una década, pero ¿cuántos escritores pueden igualarla en una vida?

Frederik Pohl
Shaumberg, Illinois
Julio de 1978
Introducción a La Dama Muerta de Clown Town

Cordwainer Smith Gallery


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La personalidad y la obra misma de Cordwainer Smith hacen de LOS SEÑORES DE LA INSTRUMENTALIDAD un caso único en la historia de la ciencia ficción. El conocimiento profundo que el autor tenía de la cultura china impregna inevitablemente el estilo de su producción literaria, en la que, según los expertos, se refleja claramente el intento de trasladar a la ciencia ficción la narrativa china y su particular estructura. Así, los relatos se presentan a modo de fábulas, como historias contadas con la distanciación y el estilo de un narrador que está implicando hechos antiguos, de los que se da por supuesto que existe cierto conocimiento genérico y al mismo tiempo, la suficiente curiosidad por los detalles. A este respecto el inicio de NORSTRILIA es claramente paradigmático: La historia es simple. Érase un chico que compró el planeta Tierra. El chico fue a la Tierra, consiguió lo que se proponía y escapó con vida. Ocurrió en el primer siglo del Redescubrimiento del Hombre, cuando vivía la mujer-gato G'mell, cuando limpiaron Shayol como si hubiesen lustrado una manzana con la manga. Más o menos quince mil años después de las bombas que arrasaron la Vieja Vieja Tierra. El resto son detalles. Pero esos detalles son, hay que reconocerlo, algo maravilloso. En otro lugar, al caracterizar la ciencia ficción como una literatura de ideas, he escrito una arriesgada simplificación: «Se ha dicho que una novela de Literatura general (de esa de la que algunos no ocultan la mayúscula al hablar de ella) no puede contarse, que debe ser leída y apreciada en su totalidad. Esto no ocurre así en la ciencia ficción. Si un relato de ciencia ficción no puede ser contado y abreviado es que no contiene esa idea que constituye el elemento esencial del género para la mayoría de sus lectores.» Bueno es reconocer que la obra de Cordwainer Smith se resiste a ese reduccionismo que enuncié, en su día, con simple voluntad didáctica. Hay ideas en la obra de Cordwainer Smith, y muchas; pero su somera relación nos alejaría del sorprendente y maravilloso ambiente que impregna sus narraciones, de esos detalles que configuran, de hecho, toda su narrativa.

Otro aspecto que creo destacable en la obra de Cordwainer Smith es el elevado número de referencias que se establecen entre unos relatos presentados como entidades independientes. Precisamente esa constante referencia a otros relatos del ciclo confiere al conjunto de la saga de LOS SEÑORES DE LA INSTRUMENTALIDAD una curiosa sensación de verosimilitud. Obtenemos en realidad la imagen de una historia legendaria que se da por sabida y cierta, de una historia cuyas líneas generales son de dominio público, y a la que cada uno de los relatos no hace más que añadir puntualizaciones y pequeñas precisiones. Se trata de una historia cuya moraleja y sentido final ya son conocidos por todos. Y a esa sensación general de verosimilitud contribuyen incluso las pequeñas incoherencias también presentes en los relatos.


Introducción a Los Señores de la Instrumentalidad.

C.S. Lewis Galeria de Capas

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Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis (Belfast, 29 de novembro de 1898 – Oxford, 22 de novembro de 1963), foi um professor universitário, teólogo anglicano, poeta e escritor britânico, nascido na Irlanda, atual Irlanda do Norte. Destacou-se pelo seu trabalho acadêmico sobre literatura medieval e pela apologética cristã que desenvolveu através de várias obras e palestras. É mais conhecido por ser o autor da famosa série de livros infanto-juvenis As Crônicas de Nárnia, em sete volumes, pela qual recebeu inúmeros prêmios — incluindo a renomada medalha de Carnegie.

O Pequeno Ser Prateado — Conto Completo de Roberto Schima

Roberto Schima — O Pequeno Ser Prateado

   Faz muito tempo...
   A memória, principalmente com o avançar da idade, é capaz de pregar-nos muitas peças, distorcer alguns fatos, suprimir muitos outros, misturar sonho à realidade. Entretanto, aquele acontecimento em particular, quando eu tinha dezessete anos, jamais me esqueci; senão em todos os seus detalhes, pelo menos no essencial. Está vivo dentro de meu coração, de minha alma, como se tivesse acontecido agora há pouco. Porém, já se passaram trinta e cinco anos... Trinta e cinco! Uma vida inteira praticamente... como uma canção distante ou um abismo profundo. Todavia, aquilo que ocorreu foi a ponte, o meu elo atual com aquele “eu” deixado para trás em uma eternidade de tempo. Foi o abismo devolvendo seu olhar para mim, sobre todos nós.
   Atrever-me-ei a encará-lo novamente?
   Ainda me recordo daquele brilho de obsidiana no terreno côncavo. Os cheiros incinerados partindo da mata. A gritaria ininteligível. Os relâmpagos. O medo. O cintilar de prata na noite. E, principalmente, o zumbido penetrante, atravessando-me o cérebro de um hemisfério a outro repetidamente.
   Mas, como dizem por aí, é melhor eu “começar do começo”...
Abro um dos olhos, apenas um...

   E encaro.

***


   Eu retornava para casa como de costume. Era uma noite límpida, apesar de poucas estrelas serem visíveis. A vida na cidade e no subúrbio era assim. Além de sugar a vida da gente, roubava também as estrelas do céu. A primavera perfumava as ruas e as casas com o seu odor adocicado e morno. Era quase meia-noite. Sentia-me cansado de tanto estudar. Ficara enfiado o dia inteiro nos livros e apostilas, preparando-me para as provas vestibulares. A concorrência era pesada, ainda mais para alguém como eu, que viera do ensino público, e não via condições alguma de arcar com uma faculdade particular. Economizara um ano inteiro de trabalho, pedira demissão e, agora, custeava o cursinho e procurava estudar em tempo integral. Era tudo ou nada.

   As pessoas dormiam em suas casas, vivendo o místico universo dos sonhos, ou, então, assistindo a algum “enlatado” americano pela TV. As luzes das casas e dos postes projetavam sombras artificiais. Estava tudo muito quieto. Nas ruas, apenas o som de meus passos no asfalto fazia-se ouvir, fazendo-me recordar um poeminha que escrevera alguns meses antes, no outono, em um momento de solidão, incerteza e pieguice:

Passos no Outono

No caminhar solitário
Pelas ruas sombrias,
Apenas o som de seus passos
No asfalto se ouvia.
Eventualmente, o roçar do vento
Nas folhas fazia
Um estranho murmúrio
Que, na distância, sumia.
As nuvens cobriam a Lua
Em triste melancolia,
Enquanto as estrelas choravam
O dissipar da alegria.
O frio gelava suas faces,

Mas ele nada sentia.
As luzes ao longe se apagavam
E o fino sereno caia.
Lembranças na sua mente rodavam:
Sonhos, ideais, fantasias,
De um mundo perdido no passado,
De paz, pureza e harmonia.
No entanto o tempo voava,
E um novo mundo surgia.
Lembranças ficavam para trás.
Não há paz, pureza e alegria.
Seus passos se perdem na noite,
E ele tem que encarar o dia,
Deixando suas pegadas no asfalto
E as recordações na calçada fria.



   À medida em que me aproximava de casa, um sobrado geminado, quase na esquina e em um local elevado, pus-me a observar na distância as luzes perdendo-se no horizonte. Eram como lantejoulas bordadas em um curvilíneo tecido negro. Sentia-me vazio, calmo... não, calmo não, simplesmente exaurido, incapaz de focar o pensamento em coisa alguma. Andava devagar, saboreando a quietude, inspirando a noite para dentro de mim.
   O silêncio era impressionante, quase sobrenatural: nenhum grilo, nenhum roçar de papéis nos fios de eletricidade, nada. Só o cansaço me fez não pensar no assunto. Minha mente fora absorvida pelos problemas de Matemática, Física e Química; decorando os difíceis nomes da Biologia e as regras gramaticais na aula de Português com suas infindáveis exceções. Em História, tivera aula sobre o Iluminismo e o Renascimento, períodos que trouxeram de volta a autoestima do ser humano, recolocando-o no centro do Universo enquanto a mais elevada criatura da Terra, obra e imagem de Deus.    Não me consolou muito...
   Fitando a abóbada, vi algumas estrelas tentando sobreviver na atmosfera poluída. A Lua também brilhava palidamente; acho que era minguante, não sei ao certo agora.
   Foi então que, repentinamente e de soslaio, observei um traço de luz riscar o céu como um giz mágico na lousa do espaço. “Meteoro”, pensei sem dar maior importância a princípio. Mas os meteoros desapareciam rápidos com a fricção, já que boa parte deles não era muito maior do que uma ervilha. Todavia, aquele “meteoro” em particular persistiu, cruzando o céu de leste a oeste.

   Apesar de eu continuar a não ouvir coisa alguma, o brilho daquele objeto foi aumentando, a ponto de iluminar os telhados e as ruas. E foi crescendo e crescendo. Meu torpor cedeu lugar a inquietação e ao medo. Por fim ele se perdeu atrás de algumas árvores distantes.
   Quase no mesmo momento, um estrondo, uma onda de choque, fez o chão tremer e as damas-da-noite que enfeitavam a rua em que eu me encontrava farfalharem, ocasionando uma chuva de folhas e pétalas brancas. Perdi o equilíbrio na guia da calçada e cai. Esfolei os joelhos e as palmas das mãos que passaram a arder como se eu os tivesse encostado em uma chapa quente. Cadernos e apostilas esvoaçaram feito aves assustadas. Machucado, sujo e sentindo muita dor, recolhi meus materiais de escola conforme pude, sem desprender de todo os olhos da direção de onde supunha ter ocorrido o impacto. Avistei luzes multicores explodirem de baixo para cima como grandes fogos de artifício.
   Não demorou para as pessoas assustadas emergirem de suas casas.

   — Ei, você! Ouviu só esse barulho? 
— perguntou um sujeito gordo de roupão listado a seu vizinho.
   Este, um magricela alto, ampla calvície e óculos de lentes grossas, retrucou com uma voz fanhosa:
   
— Só surdo não escutou. Será que foi terremoto?   — Terremoto que nada. Olha ali atrás. Está vendo?
O magricela espremeu os olhos por trás das lentes.
   
— Que luzes serão aquelas?
   
— Como vou saber? Até parece que explodiu um posto de gasolina!
   Uma moradora do outro lado da rua intrometeu-se:
   
— Acho que a minha televisão pifou... Diacho! Logo agora, na parte mais emocionante do filme... Droga! Quem pagará o prejuízo?
   Ninguém respondeu.
   Outras pessoas saíram, e mais outras, e mais outras...
   Uma multidão se formou nos quintais, calçadas e ruas. Apesar do horário avançado, várias delas dirigiram-se em direção às luzes estranhas. Os “fogos de artifício” ainda iluminavam o céu, porém, em menor número agora. Outros grupos foram se formando e convergindo ao local do impacto, vindo dos bairros circunvizinhos, aumentando as fileiras. Alguns iam de carro, a maioria foi a pé. Pareciam pequenos duendes atrás do pote de ouro no final do arco-íris. Eu, apesar de todo o cansaço, da fome, dos ferimentos, acabei me juntando a turba, pegando carona com um sujeito que nem conhecia, em um velho Volkswagen.
   
— Caramba! — exclamou ele. — Nunca ouvi nada parecido. Meu avô esteve na guerra e acordou sobressaltado, pensando que havia retornado ao passado, às trincheiras. Ele me disse que somente uma bomba de enorme poder destruidor poderia ter feito a terra tremer daquele jeito. Três vidros de minha casa se quebraram!   — Não creio ter sido uma bomba — respondi em meio a um bocejo, ao mesmo tempo em que procurava limpar o sangue das mãos. — Eu vi a coisa cair. Acho que foi uma espécie de avião...
   
— Barbaridade!... Vamos rezar para você estar errado... Ah! Como é o seu nome? Eu me chamo Eno.— Eno?— É... Como o sal de fruta..— Meu nome é Roberto.— Falou, Beto. Vamos lá!
   Levamos mais ou menos meia hora para chegar ao local, num misto de curiosidade e mal pressentimento. Normalmente, faríamos o trajeto em cerca de dez minutos, porém, essa noite o tráfego aumentara consideravelmente, principalmente nas proximidades do epicentro. Todos queriam saber o que havia acontecido, sem esperar pelo noticiário matinal. Havia algo de mórbido nisso, como aquelas pessoas a observar fascinadas uma briga de rua ou um acidente de trânsito. Era um dos lados obscuros da natureza humana, e nem chegava a ser o pior.
   A queda ocorrera em uma região arborizada, perto das montanhas Macridi, umas das raras áreas que, por enquanto, escapara à gana imobiliária. Antes assim, caso contrário, as dimensões da tragédia seriam muito maiores. (Tempos depois, cheguei a conclusão de que a queda em uma área despovoada não fora obra do acaso.) Focos de incêndio persistiam aqui e ali. Muitas árvores e arbustos foram queimados; muitos troncos, derrubados, obstruindo o caminho. Deixamos o Volkswagen atrás de uma fileira de carros. Mal conseguíamos respirar à medida em que nos aproximávamos a pé do centro do desastre. Quando faltavam uns duzentos metros, separamo-nos um do outro. Não foi intencional. Chegou um ponto em que não havia mais iluminação pública, nenhuma claridade, exceto a da Lua e, agora, alguns fachos de lanterna. Estava escuro. Muita gente se atropelava. Muitos pés pisoteavam pedras e folhagem morta. Sons de galhos sendo partidos vinham de toda parte. Murmúrios, respirações tensas, movimentos arrastados.

   Cheguei a perguntar-me o que estava fazendo ali. Por que não tinha ido para casa tomar um banho, jantar, dormir, repor-me para o dia seguinte que não se mostraria menos cansativo? Eu seria tão mórbido quanto aqueles outros aparentavam ser? Procuraria alguma forma de conforto na desgraça alheia? Não pude responder. Senti-me conduzido por aquele impulso, feito um trem desgovernado, um entulho arrastado pela corrente. Somente seguia o curso, incapaz de voltar-me contra ele nem de encontrar um remanso.
   Finalmente, suado e sujo, atingi o local. O cenário era de absoluta destruição. Era difícil não tropeçar em algo, um pedaço de tronco, alguma rocha, qualquer coisa. Os “fogos de artifício” – ou fossem lá o que fossem – tinham parado. Havia uma enorme cratera fumegante. O chão ao redor da borda tinha se elevado e ainda estava quente. Vapores coloridos subiam, tênues, condensando-se rapidamente, formando uma névoa rasteira. Não vi destroços de metal ao redor, corpos ou qualquer outro indício indicando a queda de um aeroplano. Agradeci por isso. As pessoas que haviam chegado primeiro formavam um anel de vultos fantasmagóricos ao redor da cratera. Ofegante, aproximei-me cautelosamente delas. O calor era quase insuportável. Galhos e arbustos crepitavam. Algumas pessoas mais lúcidas e menos egoístas cuidavam de evitar a propagação das chamas. A maioria, entretanto, olhava de maneira fixa para o interior da cratera. Havia espanto, incredulidade, em seus semblantes. Aproximei-me mais. Não foi fácil: o terreno tornara-se mais íngreme e havia muita terra solta. Ainda estava quente, muito quente. O suor aumentava a cada passo. Sentia a camisa colada ao corpo. Já perto da borda, apurei a vista e, em meio à neblina, eu também vi.
   Foi como olhar para as profundezas de um abismo. O abismo dentro de cada um de nós. “Caldeirão do Inferno” não seria uma expressão descabida.
   E, no interior desse caldeirão, em meio ao nevoeiro, um objeto de aparência metálica, todo prateado e de grandes dimensões encontrava-se parcialmente destruído e enterrado no solo calcinado. Como parte de sua estrutura conseguira sobreviver a tão violento impacto era um mistério. Usar o termo “estrutura” de imediato levaria a conclusão de ser algo artificial, desenhado e construído por mãos inteligentes – ou algum apêndice de função similar -, todavia, naquela ocasião tanto poderia ser uma espécie de aparelho quanto algum tipo de ovo, ou até um geodo desconhecido. Poderia ser qualquer coisa e nenhuma delas. Ninguém sabia e sequer conseguia pensar com clareza. A maioria olhava boquiaberto, hipnotizado, enfrentando a alta temperatura para satisfazer a própria curiosidade. O perigo era enorme: o centro da cratera ainda deveria estar tão quente quanto chumbo liquefeito. Se alguém pisasse em falso e escorregasse para o seu interior... As dimensões daquilo eram comparáveis as de um navio pesqueiro, daqueles que se viam no porto de Santos ou saindo da Boca da Barra, em Itanhaém, aonde minha família costumava ir nos finais de ano, antes de meus pais se separarem. Seu formato era o de um cilindro com as extremidades arredondadas, uma drágea gigante. Sua superfície era aparentemente lisa, sem quaisquer sinais de portas ou janelas, bem como de estruturas metálicas semelhantes a asas, antenas, radares, etc. Havia rachaduras provocadas pelo impacto, mas nada podia ser distinguido através delas, fosse pela distância ou pela alta temperatura que fazia o ar ao redor bruxulear. A visibilidade era ainda dificultada não só pela baixa luminosidade, mas pela fumaça e pela névoa que emanava da cratera. Várias pessoas haviam levado lanternas, mas seus fachos eram insuficientes. O que permitia ver o objeto com alguma clareza era o luar e, principalmente, um brilho fraco emanado dele próprio. As cores alternavam-se como em um arco-íris: vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil, violeta, vermelho, alaranjado... Um ovo, mesmo alienígena, poderia fazer isso?
   Olhei para os lados. Alguns traçavam comentários sobre a natureza do objeto. Faziam-no em sussurros, como se suas vozes pudessem perturbar algo que não devesse ser perturbado 
— semelhante a se falar baixo dentro de um cemitério.
   Vi o rosto de um homem velho avermelhar-se, alaranjar, amarelar... Ele respirava profundamente, com dificuldade, olhos muito abertos. Parecia uma criança frente a uma inusitada descoberta. Eu mesmo sentia meu coração bater rápido, preso de uma grande excitação. Alguns sujeitos, mais impetuosos, queriam descer, mas a temperatura elevada não permitia. Se bem que, no fundo, deveria ser só bravata para tentar impressionar um amigo, um estranho, ou, mais provavelmente, algumas jovens.
   As cores foram se modificando com rapidez crescente. A expectativa também foi crescendo em idêntica proporção.
   Vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil, violeta, vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil, violeta...
   A névoa abriu-se por um momento ao redor da coisa. Notei que o solo ao redor também refletia seu brilho, parecia liso, polido.
   Quem conversava se calou.

   Olhares atentos.
   Expectativa.
   Sibilo.
   Houve um som abafado de ar sendo expelido, como se um velho sarcófago estivesse sendo aberto. Um “ooohhh!!!” partiu da multidão, fazendo coro àquele silvo. Alguma coisa havia ocorrido, mas o nevoeiro retornara, não permitindo ver nitidamente. Foi preciso esperar cerca de dez minutos. Rajadas de vento percorreram a região. A névoa dissipou-se, não de todo, mas o suficiente.

   Então...   — Uma abertura! — gritou alguém. — Abriu... Olha lá!
   Um murmúrio de espanto ondulou através da multidão.
   Eu vi.

   Não era uma rachadura como as que já tinham na superfície do objeto. Era regular, pouco acima da camada de neblina. Ovo algum seria quebrado assim. Pensei em correr dali, porém, foi o pensamento de uma fração de segundo. Sabia que não sairia, que as pernas não obedeceriam. Era como estar preso ao olhar de uma serpente.

   Ao meu lado, percebi com asco que o velho babava pelos cantos da boca. Emitia uns grunhidos esquisitos como se fosse um animal encurralado. De alguma maneira e cada qual ao seu modo, fomos tomados por sentimentos e reações primitivas. De um canto nas sombras, alguém chorava.
   Repentinamente, mais de uma pessoa percebeu um movimento vindo do fundo da cratera. Daquela abertura surgiu algo. Um novo murmúrio percorreu a multidão, desta vez mais alto. Gritos.
   
— Ali! — apontou alguém.
   Mais gritos. Grupos agitaram-se. Um dos valentões, que havia pouco fizera menção de descer, perdeu o equilíbrio e quase caiu, porém, foi salvo por uma mulher de meia-idade. Toda bravata se foi, e ele desapareceu na multidão.
   Surgiu, por fim...
   ... a criatura.
   Uma figura, um ser humanoide, envolto em um tipo de escafandro prateado, semelhante aos usados pelos bombeiros quando entravam no fogo. Só que o escafandro do ser era mais justo acompanhando os contorno de seu corpo. Ele era baixo, medindo talvez um metro e meio de altura, com a cabeça desproporcionalmente maior se comparada a de um ser humano, e as pernas desajeitadamente mais curtas. Nenhuma parte do ser era visível, ele era todo prata cambaleante.
   As pessoas olhavam assustadas e incrédulas as óbvias tentativas da criatura em sair da nave. Meio que rastejando, ela rolou e caiu com um baque abafado no terreno fervente. Seu corpo sumiu em meio às fumarolas. Quando conseguiu erguer-se, ficou visível apenas do peito para cima – ou algo que poderia ser chamado de peito.
   Aos tropeços, afastou-se na nave. Escorregou. Surgiu outra vez.

   Tentou escalar a cratera. Então, extraordinariamente, deu-se conta da presença dos curiosos mais acima, na borda, que a tudo observavam. Acenou freneticamente. Emitiu sons fracos e agudos, como um rádio antes de ser sintonizado. Esse estranho som, embora de baixa intensidade, penetrou profundamente em meu cérebro. Foi como se percorresse todos os seus recantos, vasculhando, sondando; como um grito na nave de uma catedral vazia. Sacudi a cabeça, incomodado pela comichão que estava sentindo. Reparei nos outros ao redor, e vi que estavam sentindo o mesmo.
   Mais gente chorou.
   Outros gritos.
   Alguns fugiram.
   Todos ficaram sem saber o que fazer, como que congelados no tempo, um vasto iceberg humano.

   Algo de inacreditável, de grandioso, embora trágico, estava acontecendo diante de todos nós; algo que ultrapassava a capacidade de compreensão do indivíduo comum e até daqueles que se julgavam mais espertos, mas, principalmente, algo de urgente precisava ser feito.

   A criatura escalava desesperadamente a cratera, dificultada pela terra fofa e quente. Seus movimentos eram diferentes, hesitantes, talvez estivesse com dor. Fazia lembrar um alpinista prestes a atingir o cume do Everest, e cujo último cilindro de oxigênio esgotara-se.
   Vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, violeta, vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil, violeta...
   Algo precisava ser feito.
   Alguém tinha que ajudá-lo. Gostaria de dizer aqui que eu fui esse alguém, porém, não fui. Eu estava tão amedrontado quanto qualquer um ali. Tão estupidificado quanto o mais estúpido dos presentes. Meu lado primitivo fez-me agir com uma mentalidade de cardume, querendo só perder-me em meio a multidão. Que outro o fizesse, e não eu. Desde criança, eu sempre fora o último a ser escolhido nas aulas de Educação Física na hora de formarem os times. Um dos alvos preferidos de trotes e apelidos de mau gosto. Eu só queria ficar invisível. Mas também queria ver. E via que alguém precisava tomar uma atitude.
   Então, naquela noite quente de primavera, em um subúrbio da zona leste de São Paulo, alguém tomou:
— Matem o monstro! Matem o monstro! — foi o grito que ecoou na escuridão, nas montanhas, por entre as árvores e arbustos calcinados.
   Outras vozes fizeram-lhe eco.
   
— Vamos matar o monstro!
   Uma corrente elétrica percorreu a horda, como se esta fosse desperta de um sono profundo. Transformou-se em uma entidade coletiva, um enxame de abelhas africanas. Emoções represadas afloraram. A maioria passou, então, a acotovelar-se na beira da cratera, atirando pedras, troncos e tudo o que estivesse a mão.
Senti-me empurrado, amassado, pisoteado. Uma cotovelada no meu estômago, vinda só Deus sabe de onde, tirou-me todo o ar. Ondas de dor afogaram meu grito de protesto a meio do caminho. Meus olhos lacrimejaram. Mãos oportunistas vasculharam meus bolsos. Meus cadernos voltaram a esparramar-se, porém, sem chance de alçarem voo no meio daquela gente.
   Os sons agudos continuavam. Um milhão de mosquitos alvoroçados dentro da mente.
   Um tiro ecoou, depois outro e mais outro. O maldito que trouxera o revólver descarregou-o completamente.
— Acertei! Acertei! — gritou o miserável, triunfante, em meio aos gritos de aprovação de vários e o silêncio estupefato de poucos.
   Infelizmente, não consegui avistá-lo na multidão difusa daquela noite, muito menos saber seu nome. Valeria a pena registrar para a história o nome do facínora. Não que isso fosse, viesse ou venha adiantar muito...
   Eu havia me arrastado até próximo a um tronco chamuscado.

   Respirando com dificuldade, imundo, ainda sentindo muita dor e com algumas escoriações, tentei recompor-me da melhor forma. Olhando para a borda da cratera, vi os vultos fantasmagóricos ao redor daquela fraca claridade em rápida mudança de cores. Por um breve instante, pareceu-me estar presenciando um sabá de bruxos e demônios da velha Europa, dançando ao redor de um caldeirão infernal, cozinhando criancinhas, pulando e gritando em perdida histeria. Não foi uma comparação das mais justas. Muitas mulheres idosas e solitárias, que viviam com seus animais, suas ervas medicinais e alguma eventual excentricidade, foram tachadas de feiticeiras, perseguidas, torturadas e assassinadas por gente que se julgava santo. Gente como a que eu, agora, observava, movido por semelhante estupidez e crueldade; a mesma mentalidade de gado, a imitar o seu próximo no estouro da boiada..
   Ao menos disso, eu não participei. Se carreguei uma culpa, foi a de nada ter feito para evitá-lo. O julgamento e a sentença virão em breve. Para a infeliz criatura das estrelas, não fez a menor diferença.
   Do interior da cratera vieram sons. A princípio um som agudíssimo, depois outro e mais outro. Feriram meu cérebro mais do que meus ouvidos. Um objeto rolou: o corpo. Gritos de júbilo partiram da turba. O alternar de cores tornou-se mais frenético; e a luz, mais intensa. A temperatura começou a subir rapidamente.
— A coisa tá queimando! — berrou alguém. — Tá queimando!
Houve um princípio de pânico. Instintivamente 
— mentalidade bovina ainda em funcionamento , as pessoas correram.
   Algumas caíram e foram pisoteadas. Folhas mortas esvoaçaram. Galhos secos foram partidos. Vi boquiaberto pequenos relâmpagos surgirem da cratera como se fossem pernas de uma tarântula fantástica, tateando, procurando. Uma bolha de luz alaranjada foi emergindo aos poucos, formando uma cúpula incandescente. O calor era abrasador e estava aumentando. Arrastei-me de lá o mais que pude. Automóveis partiam. Pedestres, em meio ao empurra-empurra, atropelavam-se. Os relâmpagos intensificaram-se, acompanhados de trovões. Um odor elétrico misturou-se ao cheiro de queimado. Repentinamente, uma coluna de luz azulada subiu para o céu, rasgando as nuvens, perdendo-se na escuridão entre as escassas estrelas. Durou, talvez, uns cinco segundos, depois sumiu, sugado às profundezas da noite, levando consigo a abóbada alaranjada, os relâmpagos e os trovões. Retornou a escuridão e o silêncio.
   O interior da cratera estava em brasa, emitindo fraquíssimos fiapos vermelhos.

   O odor de eletricidade pairava no ar, misturado a outros cheiros.

   Eu não passava de uma concha vazia. A casca de uma cigarra que nunca soubera cantar. Respirei fundo diversas vezes. O fedor era pavoroso, nauseante. O peito doía. As pernas doíam. As mãos ardiam como nunca. O estômago reclamava.
   As pessoas remanescentes, recuperadas do susto, estavam curiosas, mas não puderam se aproximar.
   
— O que houve?   — Não sei... Derreteu tudo.

   
— Consegue ver algo?
   
— Está muito quente. Vou subir nesta árvore...
   
— E então?   — A cratera está brilhando por dentro. Mas o disco-voador... não está mais ali! Nem aquela coisa. O piso está brilhando. Ficou escuro, mas está brilhando...
   Vindo de longe, escutei as sirenes. As viaturas da polícia, ambulâncias e bombeiros não tardaram a aparecer, ainda que tivessem vindo tarde demais, como toda cavalaria.
   Coincidência ou não, o tempo mudou repentinamente. Nuvens cobriram o céu e um temporal desabou sobre todo o lugar.

   A polícia militar isolou a área aos berros. Todas as testemunhas do evento – as que puderam arrebanhar, pelo menos 
— foram obrigadas a voltar às suas casas, após fornecerem seus dados pessoais, documentos e endereços. Nos dias, semanas e meses que se seguiram, foram intimadas a prestar depoimentos.
A última coisa de que me recordo é a de estar sendo carregado. Desnecessário dizer o quão preocupada ficara minha mãe 
— e a merecida bronca que levei mais tarde , principalmente ao me ver naquele estado e trazido por uma ambulância. Caí rapidamente em um sono profundo, todavia, nada tranquilo. No sonho, cenários estranhos desfilaram diante de mim. Um outro mundo feito de prata, cristais e máquinas estranhas, muitas máquinas. O zumbido insistente não queria sair de dentro de minha cabeça. Parecia, ainda, estar vasculhando.
   Quando acordei, vi-me em meu quarto. Tudo parecia ter sido um sonho ruim, exceto pelas marcas trazidas no corpo. E a dor. Se eu tivesse corrido a maratona, não iria sentir-me em pior estado.
Por mais que me contrariasse, foi impossível comparecer a aula seguinte. Lastimei a perda dos cadernos e apostilas, bem como dos meus documentos pessoais na carteira furtada.
   Logo pela manhã, o rádio informou sobre estranhas luzes surgidas nas montanhas Macridi.
   
— “Os cientistas informaram tratar-se da queda de um pequeno cometa” — disse a repórter. — “Indagados sobre os boatos a respeito de uma nave prateada e um homenzinho brilhante, responderam não saber de nada. Em tom irônico, acrescentaram que, provavelmente, tudo não passava de ilusão de óptica ou alucinação em massa. Opinião idêntica tiveram com respeito aos raios e luzes misteriosos, e as explosões subsequentes. Um dos cientistas chegou a mencionar um caso semelhante ocorrido na Sibéria, em 1908, quando o choque de outro cometa foi confundido com um acidente envolvendo um hipotético veículo de origem extraterrestre. Só uma dúvida persiste, e a qual não puderam, até o momento, explicar: por que todo o fundo da cratera encontra-se endurecido, coberto por uma espessa camada de obsidiana? As pesquisas prosseguirão. Assim que os cientistas concluírem seus estudos, farão uma nova declaração oficial à imprensa...”
   
— “Ilusão de óptica”? “Alucinação em massa”? — falei comigo mesmo. A quem querem enganar?
   O zumbido voltou forte, fortíssimo. Apertei a cabeça o mais que pude, sentindo contínuas pulsações de dor. Estática.

   Simultaneamente, o rádio começou a emitir estalidos estridentes.    Eu quis gritar, mas a voz não saiu. Felizmente, continuava deitado.
   Então...
   ... a voz surgiu.
   Estranha, profunda, vinda de enigmáticos abismos da mente e do espaço. Abismo... novamente o abismo. E ela falou de dentro de mim para dentro de mim, através do rádio:
   — Por favor... Ajudem-me! A nave irá explodir... Corram! Corram! Ela sofreu avarias... Explosão solar.... Eu venho em paz...
   O rádio calou-se.
   O zumbido sumiu.
   Senti um grande alívio, contudo, não era completo. Havia um profundo sentimento de mal-estar, de remorso, em meu peito.

   Eu venho em paz.
   Algo que eu carregaria para sempre.
   Um grande vazio surgiu em mim.
   “Que explicação trivial as ‘otoridades’ darão para essa misteriosa voz no rádio?”, pensei. “Ventriloquismo coletivo?”
   De concreto, uma certeza: tínhamos nos transformado no monstro que julgáramos combater.
   Nos dias que se seguiram, precisei correr atrás da segunda via de meus documentos, desaparecidos desde aquela noite, assim como das matérias perdidas no cursinho. Tudo me pareceu irreal. A normalidade tornou-se insólita.
   Ah, sim, precisei prestar depoimento, como os outros. Obrigaram-me a assinar uma declaração juramentada, onde me comprometia a não mais tocar no assunto, por envolver a segurança nacional e coisas do tipo. Nunca tiveram êxito em calar por completo os boatos, perdidos em suas infindáveis tramitações burocráticas. Melhor sorte teve a aura de maluco reservada àqueles que insistiam no assunto, de modo que, aos poucos, as próprias testemunhas obrigaram-se a se calar.
   Um mês depois, os cientistas informaram que a superfície vítrea fora provocada pelo calor do impacto com um meteorito, ao invés de um cometa. Não forneceram maiores detalhes, muito menos sobre a ausência de fragmentos. O bólido foi batizado de Nhatumani, em razão deste ser o nome da rua mais próxima à colisão. A área toda foi isolada para dar continuidade aos estudos. Um conjunto de laboratórios foi construído nas proximidades, onde vozes estrangeiras foram ouvidas com frequência. Muito mais tarde, excursões de turistas foram permitidas desde que sob rigorosa vigilância, “para evitar acidentes”. Fizeram até um conjunto de bilheterias.
   Visitei a cratera.

   A essa altura eu já tinha prestado o vestibular. Por um desses milagres inexplicáveis, conseguira passar. Engenharia.
   Uma plataforma fora construída para permitir a visão do alto.          Uma cerca metálica de cada lado da plataforma impedia qualquer acesso direto ao terreno pelo público. Instalaram câmeras por toda parte. Encontrei pessoas que haviam estado lá naquela noite, incluindo aquele sujeito do Volkswagen com o nome de sal de fruta, Eno. Apesar da proibição, tentei conversar com ele a respeito, mas fugiu de mim como o diabo da cruz. Nunca mais o vi.
   Observei o fundo da cratera. Estava muito escuro e brilhante. Era dia. Não havia mais a neblina. Tentei reviver aqueles momentos fatídicos em minha mente: as poucas estrelas, o perfume das damas-da-noite, o estrondo, a correria, as chamas, o alienígena, o tiro, a turba enlouquecida.

   E a mensagem no rádio.
   Algo importante ocorrera naquela noite. A revelação... Não apenas uma revelação vinda do Cosmo, trazendo vida, conhecimento e fatalidade. Não somente uma perda irreparável que poderia ter reduzido em séculos, senão em milênios tudo aquilo que julgávamos saber sobre a Ciência em geral e o Universo em particular. Uma vida inocente, talvez a consciência mais inocente na Terra naquele instante, fora tirada. Aquela noite houve para mim uma revelação tão ou mais importante do que tudo isso:

   A revelação do próprio Homem.
   E não haveria Iluminismo ou Renascimento que trouxesse a glória humana de volta. Se existira uma criatura no centro do Universo, ela cintilara prata. Nós criáramos Deus a nossa imagem e semelhança; por isso, Ele nada fizera pelo alienígena. O filósofo tinha razão: Deus estava morto. Talvez por isso aquele enlouquecera...
   ... ou, pelo contrário, teria sido um castigo?

***

   Fecho momentaneamente o olho que abrira.
   Estou cansado, exaurido. Muitas noites insones e, quando durmo, eu vejo. Mundos de prata e cristal. Escondo o rosto nas palmas das mãos. Tolice, não há onde se esconder. Nunca houve.
   Por que escrevo tudo isto? Por que estou quebrando meu juramento? Porque ele tornou-se irrelevante agora. Ademais, depois de três décadas, quem irá se importar?
   Observo o reflexo de meus cabelos grisalhos como um pano de fundo na tela do computador, a medida em que escrevo. Os olhos cansados e as rugas são como escrita antiga sobre o pergaminho do meu rosto.
   Tudo é irrelevante agora.
   Este escrito também o será, caso não haja mais ninguém para lê-lo.
   Por quê?
   O zumbido retornou. Mais forte do que nunca, muito mais numeroso. Um verdadeiro enxame de abelhas atravessando os neurônios. Talvez mais... Sonhei noites seguidas com centenas, milhares de “colmeias” a atravessar o espaço. Cidades flutuantes.        Máquinas, milhões delas. Prata e cristal.
   O zumbido fez rádios e televisores queimarem. Milagrosamente, o computador manteve-se intacto. De tempos em tempos, uma palavra repete-se em sua tela e por toda a rede mundial. Preciso tomar muito cuidado, fazer o “backup” de minuto a minuto.
   Uma palavra.
   Vinda da escuridão longínqua do céu.
   O arauto do destino.
   O destino de todos nós.
   Uma palavra...
   “RETALIAÇÃO”
   Naquela noite perdida no tempo, olhamos demais para as profundezas do abismo.

   Agora, o abismo estava retornando.
   Ele olha para dentro de nós.

***

NOTA: A presente história foi originalmente publicada na coletânea independente “Pequenas Portas do Eu”, em fins de 1987. Agora, vinte e seis anos depois, dei a ela uma nova face. Coincidentemente, eu também tinha vinte e seis anos naquela época. Não terei a presunção de dizer que melhorei a história, como se o tempo tivesse me aperfeiçoado enquanto autor, a exemplo de uma garrafa de vinho. Fiquei muitos anos sem me exercitar na escrita. Se há uma certeza no decorrer de todos esses anos, é apenas a de que eu fiquei mais velho... De qualquer maneira, procurei acrescentar maiores detalhes à história segundo a minha visão atual. A inclusão do poeminha “Passos no Outono” foi um artifício ao qual não pude resistir, por mais deslocado que tenha ficado. Escrevi-o quando tinha vinte anos. Nunca tive jeito para poesias, nada que fosse além de um “Batatinha quando nasce...” Porém, não quis perder essa chance de preservá-lo 
 e até divulgá-lo  por razões puramente pessoais, nostálgicas.