segunda-feira, 21 de julho de 2014

Uma Filmografia de Ficção Científica — Anos 20 e 30

Começo aqui uma filmografia pessoal, composta exclusivamente de filmes de ficção científica, assistidos ao longo dos últimos anos e organizadas em ordem cronológica de maneira a servir também como um histórico cinematográfico. Acrescentarei a esta coleção alguns pequenos comentários, sem maiores compromisso do que o do fã inveterado neste gênero maravilhoso.

A ficção científica se aproxima do sublime por representar inúmeras memórias humanas, em infinitos universos possíveis, de passados e de futuros distantes, de representações do além, do galático, do universal e é por isso que ela garante sempre algo de original e inovador.

Um aspecto importante desta seleção, e isso começou lá na busca dos filmes, foi a intenção de se encontrar o maior número possível de roteiros nascidos de adaptações literárias, de maneira que muitos livros importantes serão referenciados nesta lista e veremos inclusive, que nem sempre as histórias são adaptadas a contento. 

Espero que essa coleção possa contribuir para um maior conhecimento e para a divulgação da ficção científica tanto literária quanto cinematográfica.

Anos 20 e 30


Aelita - A Rainha de Marte de Yakov Protazanov (1924)

Aelita - A Rainha de Marte de Yakov Protazanov (1924)
Um dos primeiros longas de ficção científica e o primeiro filme russo no gênero. Livremente adaptado de um romance homônimo de Alexei Tolstoy foi também o primeiro filme a sofrer severas críticas do autor sobre o resultado da adaptação cinematográfica da sua obra. Sua moral é na verdade anti-científica e o filme é uma crítica disfarçada ao futuro e ao progresso. Mas ainda assim é um filme interessante por sua estética angulosa e a criatividade dos cenários e figurinos para a época.
Aelita, a Rainha de Marte, 1924.

Metrópolis, de Fritz Lang (1926)

Metrópolis, de Fritz Lang, 1926.

Adaptado de um romance de Thea von Harbou por ela e por seu esposo Fritz Lang, o diretor e co-roteirista não creditado, o filme é um delírio visual, o que justifica ter sido a mais cara produção do cinema europeu da época, mas não fica nisso, o filme faz uma crítica ferrenha aos meios de produção industriais do início do século e ainda contribui para a criação da estética expressionista alemã e também reproduz nos elementos de cena os conceitos da escola Bauhaus de design fundada por Walter Gropius em 1919.
Metrópolis de Fritz Lang, 1926.

King Kong de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack (1933)

King Kong de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack (1933)
Sempre achei esta a melhor versão de todas as refilmagens desse clássico. É uma história envolvente e muito rápida para os padrões da época, e o fato curioso é ter sido escrita diretamente para o cinema a partir de uma ideia de Edgar Wallace, um importante escritor inglês de novelas policiais falecido um ano antes da estréia do filme, e depois costurada por James Ashmore Creelman e Ruth Rose e outros, inclusive o próprio Edgar Wallace palpitando antes de falecer, portanto é quase uma criação coletiva e artesanal que marca o início dos filmes de monstros e de lutas entre criaturas pré-históricas. 
King Kong -de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack - 1933.

A Noiva de Frankestein de James Whale (1935)

A Noiva de Frankestein de James Whale (1935)
Outro roteiro coletivo tomando como base a genial história de Mary Shelley, e segundo o IMDb, participaram na elaboração do roteiro os seguintes roteiristas: William Hurlbut, John L. Balderston, William Hurlbut, Josef Berne, Lawrence G. Blochman, Robert Florey, Philip MacDonald, Tom Reed, R.C. Sherriff, Edmund Pearson, Morton Covan. Que o Senhor lhes proteja... 

Um grande filme, que ainda tem alguns elementos da estética do cinema mudo, como o exagero das expressões e o andamento meio pulado nas cenas de ação, mas não atrapalham o contexto geral da obra. O texto é irônico e mordaz, e começa justamente em uma noite chuvosa, numa propriedade rural, com a autora da obra, Mary Shelley, seu esposo Percy Shelley e o poeta Lord Byron, discutindo sobre a história escrita por Mary numa noite semelhante a esta. Portanto, o filme é como se fosse uma continuação do Frankestein original, de onde foram ressuscitados alguns personagens e acrescentados outros, com o objetivo de criar uma mulher para fazer companhia à Criatura, com uma brilhante interpretação de Elsa Lanchester no papel da noiva e também o da escritora Mary Shelley.
A Noiva de Frankenstein de James Whale, 1935 (avi_snapshot_01.11.36).

Daqui a Cem Anos de W. Cameron Menzies (1936)

Daqui a Cem Anos de W. Cameron Menzies (1936)
Outra superprodução européia da época, neste caso inglesa, com um roteiro do próprio H.G. Wells baseado em duas obras suas de especulação futurista, no sentido da criação de um governo planetário para resolver todos os conflitos entre os povos. Este filme, o próprio Wells supervisionou toda a sua produção aos 69 anos, e trata-se de um filme bem superior para a época, especialmente em sua segunda parte, onde retrata a terra em 2036, com um cenário exuberante de paisagens bucólicas entrelaçadas com estradas elevadas e edifícios vertiginosos, os quais são mobiliados com móveis de vidro e divisórias intrincada e semi transparentes. Muitas invenções atuais já estão neste filme, como os telões, a tv tela plana e o relógio celular, entre outras.
Things to Come de William Cameron Menzies, 1936 (avi_snapshot_01.11.34).
O filme original é em preto e branco, mas há uma versão na web, colorizada em computador e com cores pastéis que deixaram o filme mais dramático e mais atraente ao público moderno. Altamente recomendado.