Galeria H. G. Wells



Herbert George Wells, conhecido como H. G. Wells (Bromley, 21 de Setembro de 1866 — Londres, 13 de Agosto de 1946), foi um escritor britânico e membro da Sociedade Fabiana.


Nascido num distrito (borough) da Grande Londres, na juventude foi, sem sucesso, aprendiz de negociante de panos - a sua experiência nesta ocupação veio mais tarde a ser usada como material para o romance Kipps. Em1883 tornou-se professor na Midhurst Grammar School, até ganhar uma bolsa na Escola Normal de Ciências em Londres, para estudar biologia com T. H. Huxley.

Nos seus primeiros romances, descritos, ao tempo, como "romances científicos", inventou uma série de temas que foram mais tarde aprofundados por outros escritores de ficção científica, e que entraram na cultura popular em trabalhos como A Máquina do Tempo, O Homem Invisível e A Guerra dos Mundos. Outros romances, de natureza não fantástica, foram bem recebidos, sendo exemplos a sátira à publicidade Edwardiana Tono-Bungay e Kipps.



Visionário, chegou a discutir em obras do início do século XX questões ainda atuais, como a ameaça de guerra nuclear, o advento de Estado Mundial e a Ética na manipulação de animais.
Desde muito cedo na sua carreira, Wells sentiu que devia haver uma maneira melhor de organizar a sociedade, e escreveu alguns romances utópicos. Começavam em geral com o mundo a caminhar inexoravelmente em direção de uma catástrofe, até que as pessoas se apercebiam da existência de uma maneira melhor para viver: ou através dos gases misteriosos de um cometa, que fariam com que as pessoas começassem subitamente a comportar-se racionalmente (Os Dias do Cometa), ou pela tomada do poder por um conselho mundial de cientistas, como em The Shape of Things to Come (1933), livro que o próprio Wells adaptou mais tarde para o filme de Alexander Korda Daqui a Cem Anos (1936). Aqui descrevia-se, com demasiada exatidão, a guerra que estava a chegar, com cidades a serem destruídas por bombardeamentos aéreos.

Ele analisa a dicotomia entre a natureza e a educação e questiona a humanidade em livros como A Ilha do Dr. Moreau. Nem todos os seus romances terminam em feliz Utopia, como mostra o distópico When the Sleeper Awakes. A Ilha do Dr. Moreau ainda é mais sombria. O narrador, após ficar encurralado numa ilha cheia de animais vivissectados (sem sucesso) até se transformarem em seres humanos, acaba por regressar a Inglaterra e, tal como Gulliver no regresso do país dos Houyhnhms, vê-se incapaz de afastar a percepção dos membros da sua própria espécie como bestas só ligeiramente civilizadas, regressando a pouco e pouco à sua natureza animal.
Wells chamava às suas ideias políticas "socialistas", e com o seu gosto por utopias, olhou inicialmente com bastante simpatia para as tentativas de Lenin de reconstruir a destroçada economia russa, como mostra o seu relato de uma visita ao país (Russia in the Shadows 1920). No entanto, desiludiu-se com a crescente rigidez doutrinária dos Bolcheviques e, após um encontro com Stálin, convenceu-se de que a revolução correra terrivelmente mal. Nisto foi provavelmente mais clarividente do que muitos dos intelectuais do seu tempo.

À medida que envelhecia, Wells foi-se tornando cada vez mais pessimista acerca do futuro da humanidade, como é sugerido pelo título do seu último livro, Mind at the End of its Tether. Os seus últimos livros tendiam a pregar mais do que a contar uma história, e não tinham a energia e inventiva dos trabalhos iniciais. É conhecido como o pai da ficção científica. [wikipedia]




Chris Achilleos Gallery Art

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Chris Achilleos (1947- ) Nome artístico de Christos Achilleos, nascido no Chipre e estabelecido na Inglaterra desde os anos 1960. Reconhecido mundialmente pela meticulosidade das suas pinturas de fantasia erótica, tem um estilo elegante e polido.

Ilustrador prolífico de capas de livros, especialmente de séries como as de Edgar Rice Borroughs da editora Pellucidar, Robert E. Howard da Gor Books e da série Dr. Who, entre outras. Fez também cartazes para filmes da série Star Trek e da animação Heavy Metal Movie (1980).


O DESAPARECIMENTO DE HONORÉ SUBRAC — Guillaume Apollinaire

Kitasono Katue - La Disparition d’Honoré Subrac - 1960

O DESAPARECIMENTO DE HONORÉ SUBRAC
Conto de Guillaume Apollinaire


Apesar das mais minuciosas buscas, a polícia não conseguiu elucidar o mistério do desaparecimento de Honoré Subrac.

Ele era meu amigo e, como eu conhecia a verdade a respeito de seu caso, considerei meu dever colocar a justiça a par do que se passara. O juiz que recolheu minhas declarações assumiu para comigo, depois de ouvir meu relato, um tom de polidez tão assustado que não tive qualquer dificuldade para entender que me tomava por louco. Disse-lhe isso. Ele se tornou ainda mais polido e então, levantando-se, empurrou-me em direção à porta e vi seu escrivão, de pé, punhos cerrados, prestes a pular sobre mim se eu bancasse o alucinado.

Não insisti. O caso de Honoré Subrac é, de fato, tão estranho que a verdade parece inacreditável. soube-se pelas notícias dos jornais que subrac passava por ser original. Fosse inverno ou verão, ele vestia apenas um casacão e nos pés só usava chinelos. Era muito rico e, como sua maneira de vestir me surpreendesse, perguntei-lhe um dia a razão:

— É para me despir mais depressa, em caso de necessidade — respondeu ele. — Com o tempo, a gente se acostuma a sair com pouca roupa. Passa-se muito bem sem roupas de baixo, meias e chapéu. Vivo assim desde os vinte e cinco anos de idade e nunca fiquei doente.

Tais palavras, em vez de me esclarecerem, aguçaram minha curiosidade.

"Mas afinal", pensei, "por que Honoré Subrac precisa se despir tão depressa?".

E eu fazia um sem-número de suposições...



Numa noite em que voltava para casa — poderia ser uma hora, 1h15 — ouvi meu nome pronunciado em voz baixa. Pareceu-me vir da muralha perto da qual passava. Parei, desagradavelmente surpreso.

— Não há mais ninguém na rua? — recomeçou a voz. — Sou eu. Honoré Subrac.

— Mas onde você está? — exclamei, olhando para todos os lados sem conseguir fazer ideia do lugar onde meu amigo poderia estar escondido.

Descobri apenas o famoso casacão estendido na calçada, ao lado de seus não menos famosos chinelos.

"Eis um caso", pensei, "no qual a necessidade forçou Honoré Subrac a se despir num piscar de olhos. Vou finalmente conhecer um belo mistério." E disse em voz alta:

— A rua está deserta, meu amigo, pode aparecer!

De repente. Honoré Subrac de alguma maneira se desprendeu da muralha contra a qual eu não o avistara. Estava completamente nu e, antes de tudo, apanhou seu casacão que vestiu e abotoou o mais depressa que pôde. Calçou- se a seguir e, em tom decidido, falou comigo acompanhando-me até minha porta:

— Você ficou surpreso! — disse ele. — Mas entende agora a razão pela qual me visto de modo tão estranho. Entretanto, não compreendeu como consegui escapar tão completamente de seu olhar. É muito simples. Só deve ver nisso um fenômeno de mimetismo... A natureza é uma boa mãe. Ela concedeu aos filhos que são ameaçados pelos perigos e que são fracos demais para se defenderem o dom de se confundir com o que os cerca... Mas você conhece tudo isso. Sabe que as borboletas se parecem com as flores, que alguns insetos se assemelham a folhas, que o camaleão pode assumir a cor que melhor o dissimula, que a lebre polar se tornou branca como as regiões glaciais por onde, tão covarde quanto a de nossas campinas, foge quase invisível.

"É assim que esses frágeis animais escapam de seus inimigos por uma engenhosidade instintiva que modifica seu aspecto.

"E eu, a quem um inimigo persegue sem trégua, eu, que sou medroso e me sinto incapaz de me defender numa luta, sou como esses animais: confundo- me, à vontade e por terror, com o meio ambiente.

"Exerci pela primeira vez essa faculdade instintiva há um certo número de anos. Eu tinha 25 anos e, em geral, as mulheres me achavam agradável e bem-apessoado. Uma delas, que era casada, testemunhou-me tanta amizade que não pude resistir. Ligação fatal!... Uma noite, estava eu na casa da minha amante. Seu marido, por assim dizer, havia partido por vários dias. Estávamos nus como divindades quando de repente se abriu a porta e o marido surgiu, revólver na mão. Meu pavor foi indescritível e só quis uma coisa, covarde que era e que sou ainda: desaparecer. Encostando-me à parede, desejei me confundir com ela. E o acontecimento imprevisto realizou-se de imediato. Fiquei da cor do papel pintado e, meus membros se achatando num estiramento voluntário e inconcebível, pareceu-me que eu aderia à parede e que ninguém mais me via. Era verdade. O marido me procurava para me matar. Ele havia me visto e era impossível que eu tivesse fugido. Ficou enlouquecido e, voltando sua raiva contra a mulher, matou-a com selvageria com seis tiros de revólver na cabeça. Então se foi, chorando desesperadamente. Depois de sua partida, por instinto, meu corpo retomou sua forma normal e sua cor natural. Vesti-me e consegui sair dali antes que chegasse alguém... Conservei desde então essa feliz faculdade, que tem a ver com o mimetismo. O marido, não me tendo matado, dedicou sua existência ao cumprimento dessa tarefa. Persegue-me há muito tempo pelo mundo todo e eu acreditava ter-lhe escapado vindo viver em Paris. Mas vi esse homem, alguns instantes antes que você passasse. O terror me fazia bater os dentes. Só tive tempo para me despir e me confundir com a muralha. Ele passou perto de mim, olhando com curiosidade para aquele casacão e aqueles chinelos abandonados na calçada. Você percebe como tenho razão de me vestir sumariamente. Minha faculdade mimética não se poderia manifestar se eu estivesse vestido como todos os outros. Eu não conseguiria me despir depressa o bastante para escapar de meu carrasco e é preciso, antes de tudo, que eu esteja nu, para que minhas roupas, achatadas contra a muralha, não tornem inútil meu desaparecimento defensivo."

Cumprimentei Subrac por uma faculdade da qual eu tinha provas e que invejava...

Nos dias que se seguiram, eu só pensava naquilo e me surpreendia, por qualquer motivo, concentrando minha vontade com o objetivo de modificar minha forma e minha cor. Tentei me transformar em ônibus, em torre Eiffel, em acadêmico, em ganhador da loteria. Meus esforços foram em vão. Aquilo não era para mim. Minha vontade não tinha força suficiente e além disso me faltava aquele bendito terror, aquele formidável perigo que despertara os instintos de Honoré Subrac...

Eu não o via já há algum tempo quando ele um dia apareceu, descontrolado:

— Aquele homem, meu inimigo — disse ele —, me espreita por toda parte. Consegui escapar três vezes, exercendo minha faculdade, mas estou com medo, estou com medo, meu amigo.

Vi que havia emagrecido, mas evitei dizer-lhe.

— Só lhe resta uma coisa a fazer — declarei. — Para escapar de um inimigo tão implacável: vá embora! Esconda-se numa aldeia. Deixe-me cuidar de seus negócios e vá para a estação de trem mais próxima.

Ele me apertou a mão, dizendo:

— Venha comigo, eu lhe suplico. Estou com medo!


Na rua, caminhamos em silêncio. Honoré Subrac virava constantemente a cabeça, com ar inquieto. De repente, deu um grito e começou a fugir livrando- se de seu casacão e de seus chinelos. E vi que um homem vinha atrás de nós, correndo. Tentei pará-lo. Mas ele me escapou. Tinha um revólver que apontava na direção de Honoré Subrac. Este acabava de alcançar um comprido muro de quartel e desapareceu como por encanto.

O homem do revólver parou estupefato, lançando uma exclamação de raiva e, como para se vingar do muro que parecia lhe ter roubado a vítima, descarregou seu revólver no local em que Honoré Subrac havia desaparecido. Depois se foi, correndo...

Juntou gente, a polícia veio dispersar. Chamei então meu amigo. Mas ele não me respondeu.

Tateei a muralha, ela ainda estava morna e percebi que, das seis balas do revólver, três haviam atingido a altura do coração de um homem, enquanto as outras haviam arranhado o gesso, mais alto, lá onde me pareceu distinguir, vagamente, o contorno de um rosto.



Título original: La Disparition D'Honeré Subrac, 1910
Tradução de Celina Portocarrero

Um outro fim do Rei Artur - Joe Kennedy


O Fim de Artur - Joe Kennedy


Sempre gostei muito do Rei Artur. Especialmente depois daquela noite em que ele evitou que eu ficasse convertido em um pinguim por toda a vida.

Tudo começou quando Merlin o Mago chegou em casa por volta das onze da noite. Vinha do baile anual dos Bruxos e Bruxas, e estava mais cheio de vinho que um barril. E bêbado, agitou um dedo na minha direção e exclamou:

— Converte-te em pinguim!

E eu me converti em um pinguim. Contemplei no espelho e notei que não era um pinguim de todo feio. Assentei as penas. Logo fui para a geladeira e me sentei dentro dela, disposto a ficar ali até que a bebedeira de Merlin já estivesse passado.

Por volta da uma da manhã ouviu-se um golpe violento na porta da frente. Merlin continuava roncando. Os golpes foram soando mais fortes. Depois de um breve espaço de tempo se ouviu um tremendo rangido e a porta arrebentou.

Ali estava o Rei Artur, vestido com a sua armadura, agitando a espada e gritando algo incompreensível. Merlin abriu um olho sanguinolento.

— Que hora mais condenada para fazer visitas – disse com um débil soluço.

— Merlin, obscuro bruxo de inomináveis necromancias – foi dizendo o Rei, agitando delicadamente a sua espada – por muito tempo foste uma praga a este belo reino com os teus diabólicos feitiços. Por fim descobri o teu imundo refúgio. Merlin, te restam escassos momentos de vida.

— O pior de vocês, estúpidos cavaleiros – queixou-se o mago –, é que não podem fazer nada sem declamar antes um maldito discurso. Por que não me matas e deixa de oratória?

— Não é a pior sugestão que ouvi – observou o Rei Artur, cortando o ar com um volteio da espada. A cabeça de Merlin caiu no chão, embora o corpo do mago continuasse deitado no leito.

Assim foi que os acontecimentos me favoreceram: imediatamente após o falecimento de Merlin, eu recuperei a minha forma natural.

Como já disse antes, sempre gostei muito do Rei Arthur. Sua clavícula me serve até hoje de excelente palito de dentes...


Título Original: The Passing of Arthur
©1966, C. C. H. Press Pub
Tradução: Herman Schmitz